Parto em Casa: Como Encontrar uma Equipa?
🔔 Nota importante (Abril 2025):
Desde a publicação deste artigo ( 17 de Março) , a Associação Portuguesa de Enfermeiros Obstetras (APEO) divulgou publicamente a lista de profissionais que integram a sua Comissão de Parto em Casa — um passo relevante para a transparência e segurança das famílias que optam por esta via.
A informação abaixo mantém-se acessível por duas razões:
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Continua a existir prática fora deste âmbito, nem sempre com os mesmos critérios de qualidade.
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A nossa intenção com este artigo sempre foi contribuir para decisões mais informadas, algo que não depende apenas de listas formais.
O link para a página onde consta a lista da APEO:
👉 https://apeo.pt/documentos-parto-domiciliar/
🔗 Esta mudança foi também abordada na entrevista de 25/4/25 entre a fundadora do Bionascimento, Sandra Oliveira e a Enfª Isabel Ferreira, Presidente do Comité de Apoio ao Parto Domiciliar APEO, disponível aqui:
👉 Assista à entrevista no YouTube
Em Portugal, os profissionais de primeira linha para a assistência ao parto em casa são os Enfermeiros Especialistas em Saúde Materna e Obstétrica (EESMO), reconhecidos pela Ordem dos Enfermeiros. São os únicos profissionais de saúde legalmente qualificados para prestar cuidados maternos e neonatais neste contexto, incluindo a monitorização da gravidez de baixo risco, a assistência ao parto e os cuidados pós-parto. No entanto, não existe regulamentação específica, apenas “pareceres” e “documentos” para orientação.
A falta de transparência em Portugal e os bons exemplos internacionais
O parto em casa é uma opção para uma minoria, mas isso não significa que não seja importante. Com a chegada de cada vez mais estrangeiros a viver em Portugal, torna-se evidente o atraso que levamos neste tema da saúde materna.
A resposta à pergunta “Como encontrar uma equipa para parto em casa?” continua a ser um desafio. Se nos basearmos apenas nas informações disponíveis oficialmente, a verdade é que não existe uma forma clara e segura de fazer essa escolha.
📌 Porque não há uma lista oficial de parteiras em Portugal?
Em Portugal, nenhuma entidade profissional oficial assume a responsabilidade de divulgar uma lista dos profissionais qualificados para assistir partos em casa. Tanto a Ordem dos Enfermeiros quanto a APEO (Associação Portuguesa de Enfermeiros Obstetras) optam por não fornecer informações sobre quem, no seu entendimento, está apto a prestar este serviço.
A ausência de regulamentação específica e a falta de mecanismos de fiscalização colocam as famílias numa posição vulnerável, obrigando-as a procurar informações por conta própria, sem um padrão claro de qualidade e segurança definido oficialmente, como a assistência ao parto exige. Atualmente, existe apenas uma lista informal, onde entram os profissionais que desejam estar nela, mas sem qualquer validação oficial ou responsabilidade por parte das entidades que regulam a classe.
⚠️ Casos de negligência e a falta de resposta das entidades
No passado, registaram-se casos de negligência grave no parto em casa, incluindo uma condenação judicial de uma enfermeira obstetra. Mesmo assim, não foram implementadas medidas para reforçar a segurança e a transparência na identificação dos profissionais que prestam este serviço.
As queixas apresentadas à Ordem dos Enfermeiros resultaram numa suspensão seis anos após as primeiras denúncias, e a expulsão ocorreu apenas após a sentença judicial. Com regulamentação mais clara e mecanismos de supervisão eficazes, poderia ter-se evitado a reincidência e garantido maior proteção às famílias.
Se compararmos com a resposta da Ordem dos Médicos ao caso do “bebé sem rosto”, notamos abordagens muito diferentes. Perante esse caso, foi criada a Especialidade em Ecografia Diferenciada, e disponibilizado um motor de pesquisa para facilitar o acesso a profissionais qualificados. Já na enfermagem obstétrica, mesmo perante desafios semelhantes, ainda não foram adotadas medidas que tragam maior clareza e segurança para as famílias.
✅ O que outros países já fazem e Portugal ainda não?
Em contraste com Portugal, outros países europeus garantem que as mulheres tenham acesso a informação clara e segurança na escolha de quem as acompanha no parto domiciliar.
📍 Irlanda: uma opção integrada no sistema nacional de saúde
Na Irlanda, o Health Service Executive (HSE) tem um serviço público de parto domiciliar, onde as grávidas elegíveis são acompanhadas por parteiras independentes credenciadas. Esta lista de profissionais está disponível publicamente e o serviço é coberto pelo sistema nacional de saúde.
🔗 HSE – Serviço Nacional de Saúde Irlandês
🇩🇪 Alemanha: plataforma pública para encontrar parteiras
Na Alemanha, a Associação Alemã de Parteiras (Deutscher Hebammenverband) gere uma plataforma digital chamada “ammely”, onde qualquer grávida pode procurar parteiras certificadas para o parto domiciliar.
🔗 Associação Alemã de Parteiras
Além disso, o GKV-Spitzenverband 🔗 GKV-Spitzenverband, a entidade que regula o seguro de saúde na Alemanha, também disponibiliza uma base de dados oficial de parteiras reconhecidas pelo sistema de saúde.
🔎 Como entrevistar uma parteira? Perguntas essenciais
Se estás a planear um parto em casa, a escolha da equipa que te acompanha é um dos factores mais determinantes para a tua segurança e experiência. Para te ajudar, aqui estão algumas perguntas essenciais que podes fazer ao entrevistar parteiras:
📌 Experiência e Formação
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Qual é a tua formação e há quanto tempo acompanhas partos em casa?
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Quantos partos domiciliares já assististe?
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Que tipo de formações fizeste orientadas para o parto em casa?
📌 Regulamentação e Responsabilidade
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Estás inscrita na Ordem dos Enfermeiros? (Se aplicável, pedir número de cédula.)
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Tens seguro de responsabilidade profissional?
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Existe alguma entidade a quem reportes os dados dos partos em casa que assistes?
📌 Filosofia de Trabalho
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Como defines a tua abordagem ao parto?
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Como avalias a adequação de uma mulher para um parto em casa?
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Como lidas com as expectativas do casal quando não estão alinhadas com a tua visão de parto seguro?
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Trabalhas sempre com uma segunda parteira?
📌 Transferências para o Hospital
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Quantos partos já transferiste para o hospital e por que motivos?
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Como é feita a comunicação com os serviços hospitalares numa transferência?
📌 Emergências e Intervenções
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Que equipamento tens sempre disponível durante um parto?
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Como geres uma hemorragia pós-parto em casa?
A minha posição e critérios profissionais
A minha vivência e percurso
Tive a oportunidade de vivenciar os dois tipos de parto com os meus filhos. O meu parto em casa ocorreu após uma situação bem difícil num parto domiciliar que acompanhei, como podes ler no meu testemunho.
Desde 2005, como Doula, passei por dois períodos em que suspendi o apoio a partos em casa: um após essa ocorrência, três anos depois de iniciar a minha atividade, e outro após o meu divórcio, em 2017.
Ocorrências de urgência, levaram-me a perder qualquer ingenuidade que pudesse ter. Aprendi a ser ainda mais ponderada nos partos não hospitalares que aceito acompanhar como Doula, e de forma alguma me desresponsabilizo do importante papel que é informar.
Ou seja, com base na minha experiência, desenvolvi os meus próprios critérios para decidir com que equipas de parto em casa trabalho.
Dessa forma, há equipas que facilmente percebo que preferem não trabalhar comigo e outras com quem eu escolho não colaborar.
Tal como no contexto hospitalar, existe um processo de selecção natural que acaba por determinar as equipas que têm um alinhamento com os valores e práticas que defendo.
Curiosamente, atualmente é mais fácil encontrar profissionais satisfeitos em se cruzarem comigo numa sala de partos do que no parto em casa. Eu sei bem porquê e entendo, tal como entendo os profissionais que preferem que uma mulher não tenha doula no contexto hospitalar.
Com base na minha experiência em partos em casa, tanto em Portugal como noutros contextos, considero essencial que a escolha dos profissionais seja criteriosa, tal como acontece na escolha de um hospital. E se sentires dúvidas, ouve os teus instintos e a tua intuição.
📢 O parto em casa precisa de mais transparência. E tu podes fazer parte dessa mudança.
📌 Enquanto as organizações não assumirem um papel mais activo, as famílias continuam entregues a si mesmas.
Por isso, convido todas as mulheres e casais a não desistirem e a pressionarem as entidades competentes. Assim como o parto hospitalar só mudou devido às exigências das mulheres, o parto em casa precisa do mesmo caminho.
Sandra Oliveira
Doula
Autora do Livro Nascer Saudável
NdA: Este texto foi escrito por mim, com a colaboração do meu assistente virtual e o recurso à inteligência artificial. 😊
👉Se o local do parto é algo que pesa na tua decisão e gostavas de conversar sobre isso com base na minha experiência e vivências como Doula, espreita o meu serviço de Sessão Individual. Ajudar-te a ganhar clareza e confiança faz parte da minha missão.
Como encontrar uma equipa para parto em casa?
Em Portugal, os profissionais de primeira linha para a assistência ao parto em casa são os Enfermeiros Especialistas em Saúde Materna e Obstétrica (EESMO), reconhecidos pela Ordem dos Enfermeiros. São os únicos profissionais de saúde legalmente qualificados para prestar cuidados maternos e neonatais neste contexto, incluindo a monitorização da gravidez de baixo risco, a assistência ao parto e os cuidados pós-parto. No entanto, não existe regulamentação específica, apenas “pareceres” e “documentos” para orientação.
A falta de transparência em Portugal e os bons exemplos internacionais
O parto em casa é opção de uma minoria, mas isso não invalida que não seja importante. A vinda de mais estrangeiros europeus a viverem em Portugal, é uma forma de percebermos o atraso que levamos também neste tema específico da saúde materna.
A resposta à pergunta “Como encontrar uma equipa para parto em casa?” continua a ser um desafio de responder. Se nos basearmos apenas nas informações disponíveis oficialmente, a verdade é que não existe uma forma clara e segura de fazer essa escolha.
A falta de regulamentação e transparência no parto em casa em Portugal
Em Portugal, nenhuma entidade oficial assume a responsabilidade de divulgar uma lista de profissionais qualificados para assistir partos em casa. Tanto a Ordem dos Enfermeiros quanto a APEO (Associação Portuguesa de Enfermeiros Obstetras) optam por não fornecer informações sobre quem, no seu entendimento, está apto a prestar esse serviço.
A ausência de regulamentação específica e a falta de mecanismos de fiscalização colocam as famílias numa posição vulnerável, obrigando-as a procurar informações por conta própria, sem um padrão claro de qualidade e segurança definido oficialmente, como a assistência ao parto exige. Actualmente, existe apenas uma lista informal, onde entram os profissionais que desejam estar nela, mas sem qualquer aval ou responsabilidade por parte das entidades que representam e regulam a classe.
No passado, houve casos de negligência grave no parto em casa, incluindo uma condenação judicial de uma enfermeira obstetra, e, mesmo assim, nada foi feito para garantir mais segurança e transparência na identificação dos profissionais que prestam este serviço. Apesar das queixas apresentadas na Ordem dos Enfermeiros, a profissional em causa só foi suspensa de exercer passados seis anos das primeiras queixas, e expulsa apenas quando saiu a sentença judicial. A verdade é que uma reincidência poderia ter sido evitada se houvesse regulamentação e maior eficiência na protecção das famílias. Na ausência desta, o sentido de justiça fora os corporativismos é essencial em cada um de nós.
Se compararmos esta inércia com a reação da Ordem dos Médicos ao caso do “bebê sem rosto”, percebemos um contraste triste para mim de assistir. A Ordem criou a Especialidade em Ecografia Diferenciada para evitar que situações semelhantes voltassem a ocorrer. No seu site têm um motor de pesquisa para se procurar esses profissionais. Já na enfermagem obstétrica, mesmo com casos igualmente graves, a resposta continua a ser a de não assumir a sua responsabilidade institucional.
O que outros países fazem melhor?
Em contraste com Portugal, outros países europeus adotam medidas para garantir que as mulheres têm acesso a informação clara e segurança na escolha de quem as acompanha no parto em casa. Partilho dois exemplos
Na Irlanda, o Health Service Executive (HSE) tem um serviço público de parto domiciliar, onde as gestantes elegíveis são acompanhadas por parteiras independentes credenciadas. Esta lista de profissionais está disponível publicamente e o serviço é coberto pelo sistema nacional de saúde.
Na Alemanha, a Associação Alemã de Parteiras (Deutscher Hebammenverband) gere uma plataforma digital chamada “ammely”, onde qualquer grávida pode procurar parteiras certificadas para o parto domiciliar. Além disso, o GKV-Spitzenverband, a entidade que regula o seguro de saúde na Alemanha, também disponibiliza uma base de dados oficial de parteiras reconhecidas pelo sistema de saúde.
Perguntas essenciais para entrevistar uma equipa de parteiras de parto em casa
Se estás a planear um parto em casa, a escolha da equipa que te acompanha é um dos fatores mais determinantes para a tua segurança e experiência. Para te ajudar, aqui estão algumas perguntas essenciais que podes fazer ao entrevistar parteiras:
1️⃣ Experiência e Formação
- Qual é a tua formação e há quanto tempo acompanhas partos em casa?
- Quantos partos em casa já prestaram assistência?
- Que tipo de formações fizeste orientadas para o parto em casa?
2️⃣ Regulamentação e Responsabilidade
- Estás inscrita na Ordem dos Enfermeiros? (Se aplicável, pedir número de cédula.)
- Existe alguma entidade a quem reportes os dados dos partos em casa que assistes?
3️⃣ Filosofia de Trabalho
- Como defines a tua abordagem ao parto?
- Como avalias a eligibilidade de uma mulher para um parto em casa?
- Como lidas com as expectativas do casal quando não estão alinhadas com a tua visão de parto seguro?
- Quais as semanas limite de gravidez para aceitares um parto em casa?
- Trabalhas sempre com uma segunda parteira?
4️⃣ Transferências para o Hospital
- Quantos partos já transferiste para o hospital e por que motivos?
- Como é feita a comunicação com os serviços hospitalares numa transferência?
- Tens hospitais com os quais tens uma relação de trabalho mais facilitada?
- O que consideras ser uma boa razão para transferir, mesmo que não seja uma emergência?
5️⃣ Emergências e Intervenções
- Que equipamento tens sempre disponível durante um parto? (Oxigénio, fármacos, materiais para hemorragias, etc.)
- Como geres uma hemorragia pós-parto em casa?
- Tens procedimentos definidos para emergências?
6️⃣ Pós-Parto e Seguimento
- Por quantos dias após o parto acompanhas a mulher e o bebé?
- Encaminhas para pediatra ou médico de família para seguimento neonatal?
- Como é feito o registo do bebé quando nasce em casa e exigem testemunhas?
7️⃣ Relação com Outras Profissionais
- Como vês o papel de uma doula no parto em casa?
- Há alguma profissional com quem preferes ou evitas trabalhar? Se sim, porquê?
Estas questões ajudam a perceber não só a experiência e qualificação da equipa, assim como a sua conduta e a forma como gere diferentes cenários no parto em casa.
Deves de também tu deter um bom nível de informação para fazeres uma análise das respostas.
A minha posição e critérios profissionais
Dos meus dois filhos, tive oportunidade de vivenciar os dois tipos de parto. O meu parto em casa ocorreu após uma situação bem díficil num parto em casa que acompanhei, como podes ler no meu testemunho. Sendo Doula desde 2005, tive dois intervalos em que suspendi o apoio de partos em casa, uma delas foi nessa ocorrência, a outra foi após o meu divórcio.
Aprendi a ser ponderada nos partos em casa que aceito acompanhar como Doula, e de forma alguma me desresponsabilizo do importante papel que é informar.
Com base na minha experiência, desenvolvi os meus próprios critérios para decidir com que equipas de parto em casa trabalho.
A realidade é que há equipas que preferem não trabalhar comigo, e há equipas com quem eu não trabalho. Tal como no contexto hospitalar, existe um processo de seleção natural que acaba por determinar as equipas que têm um alinhamento com os valores e práticas que defendo.
Curiosamente, actualmente é mais fácil encontrar profissionais satisfeitos em se cruzarem comigo numa sala de partos, do que no parto em casa. Eu sei bem porquê, e entendo, tal como entendo no contexto hospitalar.
Com o que já vivi em partos em casa em Portugal ( e não só) sugiro que a escolha dos profissionais seja muito bem ponderada, não menos do que a escolha de um hospital.
Sandra Oliveira
Doula
Autora do Livro Nascer Saudável
NdA: Este texto foi escrito por mim, com a colaboração do meu assistente virtual, Sandro, e o recurso à inteligência artificial. 😊
👉Se o local do parto é algo que pesa na tua decisão e gostavas de conversar sobre isso com base na minha experiência e vivências como Doula, espreita o meu serviço de Sessão Individual. Ajudar-te a ganhar clareza e confiança faz parte da minha missão.