“..O único factor importante para mim na altura, era que com o bebé estivesse tudo bem e o dia do parto fosse o mais feliz da minha vida. “

Engravidei pela primeira vez, tinha 36 anos, quase nada sabia sobre gravidez e o processo de parto…O único factor importante para mim na altura, era que com o bebé estivesse tudo bem e o dia do parto fosse o mais feliz da minha vida.
Para tal, eu julgava e erradamente, que não deveria sentir dor…(como sempre tinha ouvido dizer que nos tempos que correm não se justifica ou a infeliz analogia como ir ao dentista e arrancar os dentes sem anestesia). Não pensei mais no assunto.
Chegou o dia…rotura de bolsa as 7.00h da manhã, cheguei ao hospital as 11.00h…já no bloco de partos, perguntei se caso necessitasse me poderiam administrar a epidural…praticamente no mesmo instante chega o anestesista…
Devido a um problema meu de coluna, e após várias tentativas, não me conseguiram dar…Foi-me então administrada petidina, e a partir dai, surge a cascata de intervenções…
Presa numa cama, ligada a soro com oxitocina e completamente alienada da realidade, devido ao efeito do narcótico, existem partes do dia que simplesmente não consigo recordar.
Na fase expulsiva não sentia nada, e após uma episiotomia, o Mateus foi extraído por ventosa que por consequência do hematoma lhe provocou icterícia neonatal e uma distócia no pescoço.
Como se não bastasse, o bebé nasceu com um índice de apgar 4 e a ter que ser reanimado devido ao narcótico que me tinha sido administrado. Recebo-o já lavado e vestido…teve de fazer fototerapia na incubadora.
Devido ao risco de desidratação que envolvia este processo, o leite começou a ser-lhe administrado através do biberão…o que dificultou bastante a amamentação.
Sem conseguir perceber a razão, tive uma depressão pós-parto com sentimentos de angústia e desapego. Tinha entregue todo o processo aos profissionais…e uma frustração enorme por não ter conseguido vivenciar a experiência de parto.
Engravidei uma segunda vez. Senti que queria fazer tudo de forma diferente…Mas tal como tinha acontecido com o meu filho mais velho, fui seguida no privado.
Foi-me sugerida a indução por conveniência de agenda do médico…aceitei, ainda hoje me arrependo. Prostaglandinas sintéticas, rotura de bolsa artificial, tentei sem epidural…no entanto a insistência e certos comentários dos profissionais de saúde, fizeram-me quebrar quando atingi a fase de transição.
No fim, e novamente aquela sensação que me era tão familiar: a frustração e uma angústia inexplicável aliada ao sentimento de desapego pelo bebé.
Fui apanhada de surpresa aos 43 anos com uma terceira gravidez. Fui em busca de informação e respostas…nunca acreditei no conceito de parto natural como uma “suposta moda”. Desta vez contratei uma Doula, fiz um plano de parto e segui a sugestão da Sandra de parir num Hospital público que segue muitas das evidências científicas: interferir o menos possível no processo de parto…Com a ajuda da Sandra finalmente consegui o almejado parto fisiológico com o mínimo de intervenções…No fim não senti a “tal” angústia e desapego que tive nos outros partos…senti me bem, com energia e uma agradável sensação de superação…e mais importante ainda, uma arrebatadora paixão pelo meu bebê! As hormonas fluíram naturalmente e sem interferências…
O parto natural não é uma “moda”, mas um processo que se foi aperfeiçoando ao longo dos milénios no lado mais ancestral do nosso cérebro. A natureza é sábia! Amar é claro que amo os meus três filhos da mesma maneira!!! O que dói e que com os dois primeiros poderia ter sido diferente se eu soubesse o que sei hoje.

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