“Foi logo à primeira tentativa, que sorte! Más só quando vi o meu “feijãozinho” pela primeira vez, acreditei a sério, acho eu. E foi a melhor sensação do mundo!”


Vai ser à primeira e vai ser um rapaz”…disse o João quando falávamos sobre crianças. Não acreditava muito, já que me tinham diagnosticado os ovários poliquísticos. Mas nem sempre os médicos sabem tudo e a “profecia” do João cumpriu-se. Foi logo à primeira tentativa, que sorte! Más só quando vi o meu “feijãozinho” pela primeira vez, acreditei a sério, acho eu. E foi a melhor sensação do mundo!
A gravidez estava a correr bem, excepto os pequenos incómodos habituais. Logo no início comecei a “devorar” tudo na internet, sobretudo sobre as possibilidades do parto natural, alternativo. Sou estrangeira e não conhecia muito bem a realidade portuguesa. Assim encontrei também o documentário “Donas de parto” onde apareceu a minha futura doula, Sandra. Neste documento aparecem representantes de várias maternidades públicas, falam do que se deveria fazer, do que não, e com tantas opiniões “correctas” até fiquei com a sensação que era tudo cor de rosa e assim estava descansada e convencida que o meu filho ia nascer no hospital público. Mas quando comecei a “investigar”e falar com os médicos e a Sandra, percebi que afinal as minhas espectativas não eram muito reais. Queria um parto natural, tranquilo, sem intervenções desnecessárias…realmente, nunca tinha medo da dor , mas sim, como vão tratar de mim e do bebé. Assim comecei a pesquisar também sobre os hospitais privados. Mas encontrar um médico disponível 24 horas não é fácil – que tristeza…
O tempo estava a correr, a barriguinha com o Simão a crescer (porque logo com 12 semanas o médico disse que a 90% era rapaz e assim foi) e eu continuava sem obstetra e hospital. Acho que ao longo da gravidez falei com uns 4-5 médicos e visitei vários hospitais. Bastante desmotivados, começámos a pensar em termos o bebé em casa. Mas aqui tenho que admitir que estava um bocado assustada, porque tinha o streptococos B positivo e as mães que estiveram o mesmo problema sabem, que os livros e internet estão cheios de histórias tristes. No entanto, comecei a fazer um tratamento homeopático que afinal resultou mas eu  só soube os resultados apenas depois de o Simão ter nascido…
Uma tarde, (já estava com 8 meses), telefona a Sandra que participou num parto  na clínica do Sto António da Reboleira. Cruzou-se com uma médica que já tinha conhecido no Hospital Garcia da Horta há uns anos, e que podia ser uma solução para mim. “Fixe!”, pensei eu e lá combinámos a consulta com a Dra Elsa. Quando me viu pela primeira vez, com a minha barriga bem grande, só disse: “Mas está muito grávida!”..pois…Falámos sobre as minhas expectativas, sobre as possibilidades e saí muito bem disposta e tranquila que, se não decidirmos de ter o bebé em casa, esta é a nossa salvação.
Quando nos vimos pela segunda vez, já estava com 37 semanas e a Dr. Elsa resolveu fazer-me o CTG. E assim ficou claro: as contracções de treino já cá estavam e provavelmente o Simão não demoraria muito. Sentia-as há uns dias mas como não me incomodavam nada, não ligava. Já não estava a trabalhar, por isso podia preparar-me devagarinho para o grande dia que afinal chegou mais cedo do que esperava.
O domingo de 16 de Maio 2010 era um belo dia cheio de sol e calor e nós decidimos de aproveitá-lo para visitar a Feira de Livro em Lisboa. Logo de manhã demos um saltinho ao Fórum Almada para comprar uma bolsa de bebé (como se eu soubesse…) e arrancámos para Lisboa. Passear o dia inteiro na Feira a subir e descer com a minha barriguinha de 38 semanas não foi nada fácil, mas foi um dia bem aproveitado. Exaustos voltámos para casa por volta das seis e eu resolvi dormir uma cestinha. À noite ficámos em casa a ver o filme Beautiful Minds com Russel Crowe. Estava muito aflita para fazer xixi, mas também muito preguiçosa para me levantar. Quando já não aguentava mais, levantei-me devagarinho e…oups…acho que até ouvi um som estranho…pelas pernas escorregou-me um bocado de um líquido quentinho. No primeiro momento pensei: bem, já nem aguento o xixi??? Mas as perdas de líquido continuavam e eu percebi que esta noite já não íamos dormir nem voltávamos para casa sozinhos. Eram as 23h15. Tenho que admitir que no início pensei: Já? Acabei de trabalhar só uma semana antes, mas não consegui descansar porque tive que resolver mais uns assuntos e ainda por cima agendámos o encontro com a minha doula Sandra para a semana que vinha…Hmm, mais uma semanita dava me jeito para “arrumar” a minha cabeça e preparar-me. Mas os bebés são quem manda. “Falei” com o Simão, pedi-lhe para se portar bem e colaborar como deve ser, porque tendo em conta o meu estreptococo (que afinal desapareceu depois de um tratamento homeopático mas ninguém sabia porque ainda não tinha os resultados das últimas análises), precisava das contracções mais cedo possível. E ele, graças a Deus, obedeceu.
Telefonei para a Sandra, contei a novidade e ficámos à espera dela. A mala já estava pronta, porque me parecia que o Simão nascia antes da data prevista e a médica dizia o mesmo.
A Sandra chegou cerca uma hora e meia mais tarde e eu já estava com as primeiras contracções pouco dolorosas mas regulares de 5 em 5 minutos. Falámos um bocadinho mas mantivemo-nos calmos a ver um outro filme. Tentámos telefonar para a minha médica mas não estava a atender. Fiquei um bocadinho preocupada. Andei 8 meses à procura dela e agora não atende? Está a fazer um outro parto ou só não está a ouvir? Tentámos várias vezes, nada. Enviámos uma sms, nada…Bem, ainda temos tempo, é preciso eu ficar calma. E assim foi. Passando talvez uma hora, a Dra. Elsa respondeu e nós dirigimo-nos à Clínica de Sto. Antónia da Reboleira. A Dra. Elsa tinha feito um outro parto naquele dia e depois de um dia cansativo já estava dormir profundamente quando lhe preparámos mais um programa nocturno. Nesta altura as contracções já estavam mais fortes e o João teve que conduzir mais devagar porque eu já sentia cada buraco na estrada.
Chegámos à Clínica às 3 de manhã, a Dra. Elsa já estava à nossa espera. Tudo estava muito calminho. Mostraram-nos o meu quarto, vesti uma camisa não muito confortável mas que depois troquei pela minha. Vieram buscar também a primeira roupinha do bebé.
Quando a Dra. Elsa me fez o primeiro toque, já estava com 5 cm, mas eu pensei: bem, isto vai ainda demorar um bocadinho. Ligaram o CTG, estava tudo bem mas as contracções cada vez mais fortes. Por causa do meu estreptococo, administraram-me o bionéctar mas foi o único químico que levei. Nenhum soro, nenhuma oxitocina, nenhuma epidural. Tudo como eu queria.
Tentei respirar profundamente e usei uma técnica de yoga – inspirava o ar “branco” e pelo sítio onde sentia a maior dor expirava o ar “azul”. E isto ajudava. Naquela confusão toda os CDs com a minha música ficaram em casa mas na altura nem me lembrei e concentrei-me só na respiração. O João estava a dormitar um bocadinho. A Sandra massajava-me as costas, abraçava-me e sugeria algumas posições. Tinha a bola do parto, mas nela não me sentia muito bem. Fiquei afinal sentada numa cadeira, apoiando-me na cama.
Estive quase sempre com os olhos fechados, “drogada” com aquela carga de hormonas como se tudo isso estivesse a desenrolar fora de mim. Sentia-me bastante cheia porque fiquei com ideia que à noite tinha comido demais. Apetecia-me vomitar mas nada estava a sair. A Sandra encorajava-me: “Está a fazer muito bem! E sabe o que isto quer dizer?” Eu sabia que podia ser a fase da transição mas parecia-me muito cedo. Não queria acreditar, pensei que a Sandra me apenas queria animar porque as contracções apareciam de 2 em 2 minutos, eram fortíssimas e eu já não sabia se aguentava. Mas continuava a respirar de minha maneira, já com alguns sons porque assim sentia-me mais aliviada…Na certa altura comecei a sentir a vontade de fazer força mas sempre pensei que foram só as minhas necessidades. Mas quando a Dra. Elsa voltou outra vez, eu já estava com 9 cm e foi na altura para nos deslocarmos à sala de parto. Então, afinal é mesmo agora! A Sandra tinha razão. Claro, já acompanhou tantas mamãs que nestas coisas não se engana, certeza absoluta.
Quiseram levar-me na cama mas afinal fui a pé. A médica verificou a posição do bebé e perguntou-me sobre a posição em que queria parir. Sempre quis parir de cócoras mas naquele momento, nem sei porquê, talvez por mero cansaço, disse que ficava na posição “clássica” mas com as costas elevadas. E assim comecei a fazer força, depois mais gritar do que fazer força até que ouvi a médica mencionar a ventosa…”E isso é que não”, pensei eu. O parto instrumentalizado foi a única coisa que eu temia e não queria acabar o meu belo parto assim. Mobilizei todas as minhas forças que restavam e assim veio o meu Simão…quentinho, choramingo…ainda me lembro das palavras: “Está a fazer chichi…” Tudo começou e terminou com um chichizinho.
Colocaram-no na minha barriga, cortei o cordão umbilical e estive a massajar-lhe as costinhas. Depois, já vestido, colocaram-mo no peito onde logo encontrou o mamilo (e assim ficou “colado” ate eu ir ao quarto). O João estava a filmar e só depois admitiu que estava mais nervoso do que eu e que quase tinha pedido a epidural 🙂
Não escapei à episiotomia, mas pronto…sobrevive-se. De resto correu tudo bem, estava bastante tranquila porque tinha Sandra perto de mim e mesmo se os homens-pais talvez fiquem zangados comigo, mulher é mulher e esta que já viveu tantos partos, transmite uma paz incomparável!
Às vezes penso como teria sido, se o Simão tivesse nascido em casa, mas não vale pena questionar. Temos que acreditar que as nossas decisões são as melhores tomadas naquele momento e ponto final!
Tive um parto tranquilo, rápido, com pessoas que eu gosto e isso é que conta!
Obrigada Sandra, obrigada João, obrigada Dr. Elsa, obrigada SIMÃO!!!
Acompanhamento da doula
Ter uma doula foi para mim essencial por várias razões: queria ter um parto natural, tranquilo e sendo estrangeira não conhecia a realidade portuguesa. Conhecer alguém que já assistiu aos partos hospitalares e em casa e tem a sua própria experiência do parto, foi para mim a melhor opção de como receber a informação actual e objectiva para tomar as decisões importantes. A doula esclarece as dúvidas, ouve as nossas preocupações, abre os horizontes… é mãe e amiga…
E seja o seu papel durante o próprio parto mais activo ou passivo, ter uma doula significa ficar mais calma, segura, confiante nas suas capacidades e pronta para receber um novo ser que para sempre alterará a nossa vida…

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