“De facto o meu parto não foi o que eu idealizei e não se tratava de ter ou não dor”


Era uma segunda gravidez e desta vez tinha de correr tudo bem… por isso, assim que comecei a sentir aqueles sintomas desagradáveis aliados ás dores abdominais e ao cansaço, parei imediatamente de trabalhar e iniciei um período de repouso desde as 20 semanas até quase ao final da gravidez.
Nesta gravidez optei por fazer tudo diferente, comecei por planear o meu bebé no início do ano, estudando o meu ciclo menstrual, e a retirar tudo o que era informação sobre os mais diversos assuntos relacionados com grávidas e bebés nos livros e na Internet, desde os rastreios pré-natais à alimentação, passando pelos efeitos nocivos dos cigarros.
Não queria passar a gravidez no verão, e todo o meu trabalho de pesquisa deu resultado, apesar dos dois testes darem negativo eu sabia que uma vida se desenvolvia na minha barriga. E finalmente o resultado positivo a 18 de Setembro, data que decidi deixar efectivamente de fumar, achava que mais importante que qualquer dos meus vícios era o meu filho e enquanto depender de mim para respirar e se alimentar já mais tocarei num cigarro. Não importava o sexo do bebé: tinha de ser saudável embora tivesse uma preferência por um menino. E assim foi, nasceu um rapaz saudável a 18 de Maio de 2005.

Apesar de estar a ser seguida pelo particular procurei informar-me no centro de saúde sobre as aulas de preparação para o parto e de facto a aprendizagem da preparação para o nascimento começou a 29 de Março no hospital do Barreiro onde o Tiago ia nascer. Dias mais tarde uma amiga que estava grávida do mesmo tempo que eu, convidou-me a participar das aulas de preparação para o parto no centro de saúde da Quinta do Conde. Embora eu já tivesse este tipo de actividade noutro sítio, tinha muito tempo livre, a minha amiga queria companhia e era uma mais valia para os meus conhecimentos, aqui iniciei a preparação para o parto a 5 de Abril e foi numa dessas aulas que conheci a enfermeira Margarida e a Sandra, devo dizer que ao longo de toda a gravidez tive o privilégio de muitos profissionais de saúde me ajudarem. Mas sem dúvida já mais poderei esquecer o apoio que tive da Doula Sandra, quando todos me achavam maluca por não querer fazer cesariana. Pois bem, no hospital do Barreiro não fazem partos pélvicos em primeiros filhos por acharem demasiado arriscado não para a mãe mas sim para o bebé; já estava na 34ª semana de gestação e o Tiago ainda não tinha dado a volta…
Numa visita ao hospital de Almada fiquei a saber que uma obstetra tinha o conhecimento de uma prática antiga, mas que para mim era uma coisa nova que se baseia em tentar virar o bebé ainda na barriga da mãe…fiquei muito contente por haver uma possibilidade do bebé dar a volta e eu poder ter um parto normal. Mas havia algumas dificuldades em poder ter uma consulta com essa médica – Dra. Ester Casal …
Ao saber desta minha vontade a Sandra prontificou-se a ajudar-me e sem compromisso numa manhã fomos ter com a Dra. Ester e para surpresa minha numa simples conversa de alguns minutos a Sandra conseguiu que a obstetra me ajudasse imediatamente porque estava a entrar na 35ªsemana.
Fiz de tudo o que se podia imaginar…mas nem com ajuda o Tiago se virou e permaneceu sentado até ao fim. Estava triste, porque não tinha sido nada daquilo que imaginara para o meu parto – uma cesariana, apavorava-me a ideia! Havia ainda a possibilidade do bebé dar volta quando chegasse a hora, e mesmo sendo já um parto previsto por cesariana, optei por ter um trabalho de parto normalíssimo cujas contracções iniciaram pela manhã do dia 16, e depois do almoço fui caminhar com a Sandra pela praia de Sesimbra onde fui-me familiarizando com as contracções e de certo modo a controlá-las com a respiração que aprendi nas aulas. Quando fui para casa o meu marido achava que deveríamos ir logo para o hospital, mas eu achei que não. Na manhã seguinte tinha de fazer o CTG, e lá estavam as minhas amigas contracções (como eu as chamava) a marcarem o compasso e então, enviaram-me para o bloco de partos, como era definitivamente uma cesariana que tinha de fazer, possivelmente o Tiago nascesse naquele instante…Argumentei que queria um parto normal e se possível natural e toda a equipa médica ficou estupefacta a olhar para mim, porque na realidade eu queria o que ninguém quer -sentir e ver o meu filho nascer…
Restava-me a esperança que com todos aqueles turbilhões uterinos o bebé tomasse a posição cefálica…e fui para casa.

Com as contracções cada vez mais regulares procurei descontrair-me ao máximo: verifiquei a minha mala e a do bebé, tomei um banho relaxante, fui jantar fora e namorar com o meu marido (e sempre acompanhada das minhas amigas contracções de 12 em 12 minutos) sabia que a hora se aproximava. Às 6 da manhã levantei-me, e preparada para ir ao hospital, senti a bolsa das águas a rebentar…mantive-me calma e até continuei a esticar o cabelo…
Quando cheguei ao bloco de partos (demorei quase 1h para ser atendida) depois de examinada, lá fui eu para a sala de cirurgia. Toda a equipa  era  óptima, muito simpáticos e puseram-me muito à vontade até brincaram comigo…Foi-me dada a epidural e ao contrário do que toda a gente diz (na realidade só falam em diminuir as dores nunca nos aspectos negativos) a anestesia não fez efeito, e eu senti tudo como se estivesse no talho (desculpem a expressão) desde o corte à difícil retirada do bebé, nesta altura, que até então eu estava a portar-me muito bem apesar das imensas dores não aguentei de tanto me conter e pedi licença para gritar:”- vocês desculpem, mas eu vou ter que gritar!”Foi um grito de desespero como se concretizasse o que na realidade sempre me assustara e foi também que uma suposta simples cesariana virou um parto de emergência porque também o bebé estava em sofrimento e então veio a anestesia geral, adormeci.
Quando acordei a primeira coisa que me veio à cabeça foi perguntar pelo meu filho e não demorou mais de 30 segundos para a enfermeira chegar com o meu bebé no colo:”- Já foi conhecer o pai e alguns familiares agora vem para junto da mãe que ele está com fominha.” Disse a enfermeira.
Foi posto na minha mama um ser pequenino com muito cabelo, todo espetado e cheio de fome,”o meu Arrepiadinho” é assim desta forma carinhosa que ainda hoje o chamo. Tinha acabado de conhecer aquele que durante 39 semanas e 3 dias encheu a minha vida de alegria e expectativa, depois de toda a gente já o ter visto e tocado…
De facto o meu parto não foi o que eu idealizei e não se tratava de ter ou não dor, o que é certo é que a epidural não fez efeito e ainda hoje tenho dores no local da picada, tive que levar uma anestesia geral e perdi o privilégio de ver o nascimento do meu filho ou pelo menos ser a primeira pessoa a ver e tocar-lhe, não esquecendo o quão dolorosa e difícil é a recuperação de uma cesariana

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