Nota Prévia: 
Este é o meu relato de parto do meu segundo filho – quem vos escreve é a fundadora deste site – escrito pouco tempo depois do parto. Entretanto houve um divórcio, e fiz as alterações estritamente necessárias nesse sentido e também para uma leitura mais leve, dado ser um testemunho longo. O parto aconteceu em 2009.

A preparação para a chegada do Tiago

Poderia ir direita ao relato de parto, mas não consigo. Há tanta coisa para trás que faz sentido partilhar… a ver se consigo restringir-me ao que sinto mais relevante.

Tenho que, antes de tudo, começar por explicar quem comigo fez esta viagem:

O Miguel, pai dos meus filhos

A maturidade que atingimos e o contexto emocional em que me encontrava colocou de lado alguns momentos que, na gravidez da Rita, o Miguel tinha estado presente (talvez porque era socialmente correcto), como nas ecos e consultas. Na gravidez e parto do Tiago, o Miguel foi atencioso, carinhoso e protector. Focou-se acima de tudo em lembrar-me do que sou capaz e não permitir que os medos me tirassem os conhecimentos e racionalidade.

A minha Rita

Foi a minha alma sábia. Dos seus tenros 8 anos vinham as palavras mais nuas e genuínas, repletas de razão. Preparou-se para este parto, sem em momento algum duvidar do que era melhor para nós, e consciente de TUDO. E quando digo tudo, quero mesmo dizer de TUDO, de todas as possibilidades, da mais positiva à mais negativa. Assistir ao nascimento do irmão, como ela própria diz, “foi o melhor dia de sempre”.

No coração, um bebé anjo

No coração, tive sempre comigo um bebé (Anjo) que teve uma passagem muito breve pelos braços da sua mãe, e que esteve sempre no meu pensamento e coração. Ele e os seus pais trouxeram-me uma consciência diferente a nível pessoal e profissional.

A minha Doula, Luísa

Esteve sempre ao meu lado, desde o primeiro minuto de tristeza, e tão bem foi percebendo a dificuldade em fugir dela durante esta gravidez. No momento do parto, viveu a angústia de não poder estar comigo. Mas esteve. À distância, mas esteve.

A Sílvia, amiga e presença essencial

A mulher que me chamava à razão, lendo-me os pensamentos e emoções. A Sílvia passou de uma mãe que acompanhei a uma amiga para a vida. Eu vi o seu segundo filho nascer e ela viu o meu segundo filho nascer, e estes momentos uniram-nos para o resto dos nossos dias, de corpo e alma.

A minha Parteira

Enfermeira-obstetra de formação, e a quem jamais conseguirei transmitir o quanto estou grata pelos bons momentos de “dar à luz” que temos vivido. O meu é só mais um, de muitos, espero! É uma mulher de uma beleza interior que me conquistou desde o primeiro parto em que estivemos juntas – no início de Agosto de 2008. Nesse dia percebi que tinha parteira para o meu próximo parto! E tive mesmo! Assumi que a gravidez seria vigiada por ela, com uma responsabilidade partilhada.

A Cornelia Enning, a parteira alemã

Sempre nos apoiou com os seus sábios conhecimentos e conselhos.

A descoberta da gravidez

Um momento de contraste entre dor e esperança

Engravidei num dos momentos mais tristes da minha vida, senão mesmo o mais triste, mas curiosamente o momento da concepção foi um momento de carinho e ternura que jamais esquecerei. Nesse momento pensei para mim, se tiver que engravidar, vai ser agora! E foi mesmo! O dia da concepção será impossível de esquecer, pois foi seguido a um encontro libertador.

A primeira suspeita

Comecei a sentir que estava grávida no dia 24 de Setembro. A caminho de um curso que estávamos a organizar, com a Verena Schmid, dei comigo a chorar descontroladamente, a pensar no quanto aqueles dias poderiam ser difíceis. Sentia-me também eu frágil e de repente dei comigo a falar para alguém dentro de mim. Liguei de imediato à Sílvia. Ela sorriu, compreendeu a minha angústia e ao mesmo tempo procurou tranquilizar-me e transmitir calma. E resultou. O choro foi de tal ordem que recordo que só me apetecia era dormir. Comentei com as minhas colegas e com a Verena que achava que estava grávida. Um misto de emoções. Por um lado, queríamos estar felizes, por outro, a tristeza pela morte do Anjo parecia não nos dar espaço a viver que tipo de alegria fosse.

A confirmação da gravidez

Antes de a Verena partir, no dia 28 de Setembro à noite, já na minha casa, lembrou-se que poderia fazer um teste que as parteiras mexicanas faziam para confirmar a gravidez. Fomos para o meu quarto, ela, eu e o Miguel. Deitei-me e a Verena, com as suas preciosas mãos no meu ventre, confirmou: “Estás grávida sim!” O Miguel sentiu o pulsar daquela artéria, que segundo as mexicanas só se sente até às 6 semanas de gravidez. Batia tudo certo. Não resistimos e, porque para nós estava mais do que confirmado, contámos à Rita. Foi a euforia total! Ela sim, conseguiu sentir a alegria que eu tanto desejava e não conseguia.

Acompanhar esta gravidez seria diferente

Ainda antes de engravidar, já estava decidido como iria ser a vigilância, o mais tranquila possível e claro, com uma parteira. E eu sabia qual!

O impacto emocional da perda

Em Outubro, na conferência da Midwifery Today, a Cornelia ficou a saber que eu estava grávida. Ela sabia do Anjo e, ao saber da minha gravidez, chorou comigo, abraçou-me e disse-me:

“Vai ser muito difícil, Sandra, tu sabes disso. Vais ter que ultrapassar essa tristeza, pelo teu bebé.”

Isso eu sabia, mas como fazê-lo? Como conseguir? Não consegui! Vivi 9 meses de conflito entre o sentir-me feliz pelo bebé que tinha dentro de mim, e a dor da perda de um bebé que não era meu, mas a quem eu queria muito. Doía muito.

O peso das emoções

Os primeiros 3 meses foram meses de lágrimas intensas, perdida com o futuro da gravidez e com as emoções que estava a transmitir ao meu rebento. Estar sozinha era horrível. O Miguel tentou o mais possível compreender-me, sendo carinhoso. Mas tinha dias em que tentava chamar-me à razão, e aí era o desespero total para mim. Era fácil de dizer que eu não podia continuar como andava, mas como conseguir? Como?

Trabalhar, praticamente não conseguia. Em casa, a minha Rita reclamava a alegria que eu deveria sentir. Com uma lucidez tremenda dizia-me também ela palavras sábias, de uma tamanha simplicidade racional que não me deixava espaço para não admitir que ela tinha razão. Mas mesmo assim…Como deixar de sentir a tristeza que sentia? Como deixar de estar horas acordada com as imagens que tinha na memória? Como deixar de pensar no sofrimento dos outros? Como deixar de pensar PORQUÊ? Como eliminar a revolta?

Início da vigilância e exames

No início de Novembro começou a vigilância da gravidez, análises e tudo o mais. Para me desfocar das emoções, vinham as questões inerentes a uma gravidez aos 36 anos. Pesquisei, pedi opiniões e ia conversando com o Miguel, com a minha Parteira, com a Cornelia (que à distância ia vendo as análises, ecos e tudo o que a minha parteira enviava) e, claro, com a Sílvia e com a Luisa.

O médico de família compreendia as minhas posições e respeitava-as. Assim, de uma forma bem tranquila, fiz três ecografias, quatro consultas no médico de família e muitas mais com a minha Parteira.

Acompanhamento de casais e confiança no parto

Durante a gravidez, acompanhei seis casais. Estes acompanhamentos ajudaram-me muito a “encontrar-me” na minha gravidez e opções. Obrigada Maria João, Sofia, Mariana, Ana, Isabel e Beta! Mulheres de muita coragem que, com as suas opções e partos, sem se aperceberem, foram uma ajuda preciosa.

O primeiro dos dois partos em casa que acompanhei grávida, com a minha Parteira, fez-me reviver momentos difíceis e, ao mesmo tempo, trouxe algumas confirmações, que se converteram em confiança para o meu próprio parto.

A vinda da Cornelia e os preparativos

Estava conversado que a Cornelia viria para o meu parto. Era suposto vir por duas semanas, mas não foi possível. Na verdade, o que me era mesmo importante era estar com ela ainda grávida. O parto com ela, para mim, não era assim tão relevante. Queria muito sentir as mãos dela na minha barriga, sentir todo aquele saber e confiança. Sabia que isso seria importante para o Miguel e para a minha Parteira.

A viagem ficou agendada de 24 a 26 de Maio. Havia naturalmente fortes probabilidades de o parto acontecer nesses dias, sendo que a data prevista era dia 29 de Maio…

Focar-me no Tiago e aceitar cenários alternativos

Só mesmo no final da gravidez é que fui conseguindo focar-me no meu Tiago e em mim. Comecei finalmente a pensar a sério no parto, na minha Rita e nas coisas que tinha para fazer.

O Tiago ficou cefálico mais tarde do que eu precisava emocionalmente (mas dentro dos tempos ditos normais!), e isso acabou por também contribuir para que eu não interiorizasse o parto que desejava. Não conseguia… sem que ele estivesse cefálico, fui pensando noutros cenários… nomeadamente na cesariana. Também isso foi importante.

Preparação para o parto

No início do mês de Maio foi quando comecei efetivamente a tratar do parto. A gravidez assim o permitia, estava tudo bem, faltava a última eco, que tendo em conta que iria tentar o parto em casa, decidi em conjunto com as minhas Parteiras que iria fazê-la, mas bem tarde. Mas sentia que estava tudo bem.

Partilha com a família

Comecei o mês com um almoço bem feliz com a minha família. As minhas manas fizeram-me uma barriga de gesso, ouviram o Tiago, conversámos sobre o parto, em suma, falei sobre mim e o meu Tiago. As minhas irmãs fizeram as perguntas que entenderam sobre a questão do parto em casa e perceberam que na minha cabeça todas as opções seriam possíveis, e acho que isso acabou por ajudar na comunicação.

Plano de transferência para o hospital

Para a minha Rita e para o Miguel o parto em casa era algo muito natural, mas havia coisas que eu queria conversar com eles e tinha que me ir organizando mentalmente. Uma delas era o plano de transferência para o hospital. Procurei organizar esta eventualidade o melhor possível. Até meados de Maio ficou tudo conversado com o HGO.

Falei também com os bombeiros locais, que foram muito receptivos e compreensivos. O Comandante fez questão que eu tivesse o número dele, o que me trouxe muita tranquilidade. Percebi que estava perante pessoas bem sensíveis e profissionais.

Numa situação de emergência, para mim o INEM não era uma hipótese. O único parto em que tinham sido necessários, quem nos atendeu, mostrou não estar preparado para um pedido vindo de um parto em casa.

Encontro com as mulheres que iriam estar presentes

Havia ainda que estar com as mulheres que iriam estar connosco. Organizei um pequeno-almoço. Finalmente a Sílvia e a minha Parteira conheceram-se. Era importante. Eu sabia que a empatia entre elas iria surgir de imediato, mas queria que estivessem juntas. Queria também estar com a Luisa, sabia que havia fortes probabilidades de ela não poder estar presente no parto e queria muito estar com ela.

Foi uma manhã bem agradável! As crianças brincaram! Estava um dia lindo! Mais uma barriga de gesso, duas aliás, feitas pela minha Doula. E não faltou a pintura da barriga para a Rita e o Miguel “brincarem” com o Tiago!

A expectativa sobre a data do parto

A data em que todos achavam que o Tiago iria nascer era 25 de Maio. Acho que apesar de eu dizer que para mim não era importante a Cornelia estar, penso que se calhar na verdade não levavam isso muito a sério… E como no dia 25 de Maio a Cornelia estaria… todos apontavam para essa data… ou então todos gostavam de estar num parto com a Cornélia…

O descanso necessário antes do parto

Tendo em conta que estar sozinha fazia-me sentir ainda mais triste, e também porque queria que o Miguel descansasse, pedi-lhe para tirar duas semanas de férias antes da data prevista de parto.

Não me apetecia tratar sozinha das roupas para o Tiago, nem nada dessas coisas… Chegaram as férias do Miguel. Já não iria estar mais sozinha! Queria muito que o Tiago nascesse de forma a que o Miguel não regressasse ao trabalho… as férias terminavam a 31 de Maio.

A organização da casa e a importância do apoio

Havia que organizar a casa para a vinda da Cornelia. O Miguel ajudou e muito! Foi tão importante que ele tivesse tirado estas férias! Acho que ele nunca percebeu o quanto foi bom para mim e para o Tiago… Com ele em casa, momentos de alegria o Tiago acabou por poder finalmente sentir e eu também.

A minha cabeça já estava mais orientada para o meu Tiago e o seu nascimento. Já tinha os dois planos de parto feitos, um para casa e um para o hospital. Já tinha conversado com o Miguel e com a Rita sobre as minhas preocupações. Estava tudo orientado.

A minha Rita continuava a pedir que fosse um parto na água, mas se não fosse na água, importante mesmo era que fosse em casa. Também com ela conversei que nem sempre as coisas correm bem e que às vezes é preciso ir para o hospital. Nessa eventualidade, também ela decidiu com quem queria ficar.

“Era com a minha irmã mais velha – a Tia Elsa. Os avós não, porque podiam começar a dizer coisas que eu não quero ouvir.”

Incrível a maturidade da minha Rita! Sempre a surpreender-me!

A chegada da Cornelia

Dia 24 de Maio e chega a Cornelia. Finalmente, e felizmente ainda estou grávida! Tal como eu tanto queria.

Foram dias intensos, muito informais e sempre a receber informação. Com a Cornelia é sempre a aprender! Que mulher!!

A minha Parteira e a Cornelia conhecem-se finalmente!! Entendem-se muito bem! Que tranquilidade! A minha Parteira estava muito feliz com o que estava a poder viver, e eu feliz por a ter comigo tantas horas! Juntas aprendemos mais umas boas coisas.

O toque de confiança da Cornelia

As mãos da Cornelia na minha barriga foram um dos momentos mais felizes da minha gravidez. Confirma que está tudo bem, que o Tiago não seria igual ao Pai (o Miguel nasceu com 5kg!), e que me preparasse porque a bolsa iria romper antes do Tiago nascer…

A Cornelia sabia que me fascinava ver os bebés nascerem na bolsa… Também a Cornelia, tal como eu, achava que o Tiago seria um bebé de Junho… enganámo-nos!

A despedida da Cornelia

Dia 26 de Maio a Cornelia regressa à Alemanha. Foram poucos dias, mas ricos de conhecimento, tranquilidade, felicidade e muita confiança!

Antes de se ir embora disse-me:

“Tinhas razão, vou tranquila, estás em boas mãos! Gostei muito da tua Parteira!”

A surpresa da rotura da bolsa

Dia 27, a Ritinha ainda tem aulas, um dia normal. Mais uma vez, começar o dia a fazer amor fez parte do processo.

À noite, ao sentar-me no sofá com as pernas “à chinês”, sinto que me esforcei demais… sai líquido… pouco… mas pensei: Já está! Rompi a bolsa ou será que não?!

Fiquei na dúvida. Vou à casa de banho para cheirar e confirma-se: Rotura da bolsa! Mas para já pouco líquido, pode ser que seja uma rotura alta

Subo e vou para o computador. Quando me levanto, rotura total! Rio-me descontroladamente… Que sensação tão estranha… líquido a correr pelas pernas, sem qualquer possibilidade de controlar… e o cheiro… Que sensação tão estranha…

Nesse mesmo momento, liga-me uma das mamãs que tinha acompanhado em Janeiro, a Ana, mas ria-me de tal maneira que não conseguia falar com ela. O Miguel ajudou-me a limpar a “poça”, trouxe-me uma toalha para poder descer, sem que fosse a molhar a casa toda.

O início das preparações

Ligo à minha Parteira a informar o que estava a acontecer. De seguida, ligo à Luisa e à Silvia. Tudo tranquilo. Sentia algumas contracções, mas nada a registar. No entanto, fiquei convencida de que durante a noite a coisa iria avançar…

A Rita já dormia, enquanto eu e o Miguel preparávamos o quarto. Estava tudo pronto, era só colocar nos sítios.

A Parteira da minha vida chega, com as “fraldas” que lhe pedi, pois não havia penso que aguentasse! Conversamos, rimo-nos a imaginar a reacção da Rita no dia seguinte ao vê-la em casa…

Queria fazer um bolo de iogurte e o chá da Naolí para as minhas acompanhantes, mas decidi que íamos todos descansar. Noite tranquila.

O amanhecer e a calma antes do nascimento

Amanhece, levanto-me para preparar o pequeno-almoço. Um pouco triste por nada ter acontecido, mas ao mesmo tempo contente. Pois era dia 28, número que me trazia tristeza, queria que o meu Tiago não nascesse nesse dia.

A Rita acorda e, curiosamente, acha normalíssima a presença da Parteira. Fazemos-lhe perguntas, mas ela nada! Farta de tantas perguntas responde:

“Ela já faz parte da família!”

A minha Rita sabe mesmo como agradar! A Parteira explica-lhe o que estava a acontecer com o meu mini modelo didáctico. Riam-se até mais não…

Um passeio à beira-mar

Deixámos a Rita na escola e fomos para a praia. Isto sim, já estava nos meus planos, passear na praia. Estava um dia fantástico. Eu e o Miguel caminhávamos e a Parteira aproveitava para fazer o seu exercício matinal!

Estava farta da cueca-fralda, e apeteceu-me ir ao mar. Assim fiz! Que alívio! Finalmente sem fralda!

Neste dia decidi que o meu rapaz, sempre que fosse possível, iria andar sem fralda! Que incómodo! Que calor!

Andei com água até ao peito! Soube-me tão bem! Fria, à boa moda de Sesimbra, mas soube-me lindamente!

O contacto com a Cornelia e previsões para o parto

Antes de sairmos da praia, falámos com a Cornelia. Queríamos saber se podíamos recorrer aos homeopáticos que ela deixou. Parteiras conversam!

A Cornelia achava que seria durante aquela noite, mais tardar às 3 da manhã o Tiago já teria nascido! Foi um voto de confiança, mas desta vez não acertou…

Um almoço especial

Apeteceu-me uma sopa do mar! Era o Festival das Sopas do Mar. Lá fomos almoçar.

Sopa do Mar só de sexta a domingo… Ok, um creme de gambas também serve, mais um arroz de marisco.

Comemos bem. Soube-me bem! Faltava um gelado! Fomos ao gelado.

Emoções à flor da pele

Chegámos a casa, o Miguel deitou-se a fazer a sesta. Eu e a minha Parteira não resistimos ao momento a sós, e numa das vigilâncias agarrámo-nos a chorar.

Felizes pelo que estávamos a viver, e ao mesmo tempo nostálgicas, porque sabíamos que era um dia difícil de não pensar no Anjo e nos seus pais…

À tarde, liga-me a mãe do Anjo. Decidi não dizer-lhe que estava com rotura da bolsa. Não queria que a conversa se focasse em mim, até porque não havia muito para dizer… Conversámos, ela estava triste, claro.

Momentos de introspecção e vigilância

Entretanto, a minha Parteira ia cumprir com alguns dos seus compromissos. Dispensei-a! Assumi que queria ficar eu e o Miguel a fazer a vigilância do Tiago e ela voltava à noite. Vigilância essa que fomos fazendo com regularidade.

Eu tinha uma reunião importante ao final da tarde do Conselho Geral do Agrupamento da Escola da Rita. Não estava a contar ir, mas dado o contexto e a importância da reunião, lá fui. O Miguel e a minha Parteira concordaram.

Era uma hora triste. 18hrs. Choro, choro muito quando estou a ir para a reunião. Mais uma vez, a Sílvia, apesar de à distância, lê-me os pensamentos e começa a trocar SMS.

Ela sabia sempre quando eu não estava bem. Incrível!

Os meus colegas da reunião perceberam que algo estava a acontecer, ficaram baralhados, mas foram muito atenciosos.

Início dos homeopáticos e frustração

Entretanto, tinha iniciado os homeopáticos de hora em hora. Que seca!! Havia contracções, até regulares, mas nada de mais.

Mantive-me na reunião, que terminou numa tremenda desilusão… mas enfim… politiquices… não interessa…

Retorno da Parteira e redefinição do plano

A minha Parteira já estava de regresso. Penso que já eram praticamente 11 horas da noite.

Conversámos, ouviu os batimentos do Tiago, tirou febre e tensão arterial.

Definimos o plano de acordo com o que tínhamos conversado com a Cornelia.

Homeopáticos durante a noite de 2 em 2 horas e, pelo amanhecer, o primeiro toque vaginal com mais algumas técnicas naturais.

Apesar de querer muito evitar este toque, a verdade é que me trouxe algum ânimo e, acima de tudo, segurança, tendo em conta que com ele soube um pouco mais do “estado da nação”.

A angústia do tempo

Assim foi a noite, mas contracções muito poucas, e eu sempre muito angustiada com tudo isto…

Métodos naturais ou não, não queria apressar o Tiago de maneira alguma, e estava a fazê-lo, mas também sabia que o relógio estava a contar!

De manhã, pensei, pensei, já lá vão 36 horas de rotura da bolsa, e nada de trabalho de parto…

Por um lado, não queria apressar o rapaz, mas por outro o relógio não parava e, com ele, a angústia aumentava.

Um momento de reflexão e mudança de estratégia

Conversei com a minha Parteira, partilhei com ela que queria parar com tudo aquilo, que não era assim que queria continuar. Queria que o Tiago nascesse quando entendesse, e que não queria stressar…

Ela apoio-me, concordou, e decidimos ir fazer um PCR para ficarmos mais tranquilas e seguras relativamente ao risco de infecção.

Claro que, paralelamente a isto, fui tendo todos os cuidados de prevenção:

  • Passei a comer alimentos e suplementos alimentares recomendados para estas situações.
  • Os cuidados de higiene nunca foram descorados!

Falei com a Cornelia. Também ela me apoiou.

A tranquilidade antes do verdadeiro início

A minha Parteira foi novamente aos seus compromissos e eu assumi fazer a minha auto-vigilância. Ficámos todos bem tranquilos com a decisão.

Ao final da tarde, o resultado da análise. Para os indicadores portugueses, a coisa estava no limiar… mas falamos com a Cornelia e ela, mais uma vez, diz-nos que estamos a dramatizar…

A minha Parteira também faz umas pesquisas e procura informações com uma amiga médica.

Batia tudo certo. Podemos ficar tranquilas que os valores estão bons.

O verdadeiro início do trabalho de parto

Dia 29 de Maio. Pouco antes das 48 horas de rotura de bolsa, estava eu a arrumar a cozinha e começam umas contracções.

Eram 20:45 horas. Percebi de imediato que agora sim, ia começar. Começaram bem regulares nos intervalos e generosas na intensidade.

Mas eram muito curiosas.

  • A dor era na vagina, e só depois irradiava para a barriga.
  • Com elas, uma sensação de cansaço tremendo nas pernas.

Mas nada destas sensações eram novidade.

A Natureza é mesmo muito sábia. Durante a gravidez fui recebendo sinais que agora batiam certo. Sempre que tinha relações sexuais, sentia esta sensação nas pernas, que só passava com uma bela massagem que o maridão fazia.

E a dor na vagina, também durante a gravidez, surgia de vez em quando. Recordo-me de comentar com o Miguel:

É engraçado que a Natureza até nos ajudava com todo o tipo de dor que iríamos sentir, até mesmo as do fim…

Achava eu…Sim, porque por norma, na vagina só dói no fim. Isto, normalmente. Mas enganei-me. Talvez por causa da rotura da bolsa, eu estava a sentir tudo isto logo no início.

O aviso às minhas mulheres

Por volta das 22 horas, avisei a minha Parteira, liguei à Luisa, que, muito triste, me disse que não poderia vir, mas que “estaria” comigo de qualquer forma. (E esteve!) Liguei à minha Sílvia. Disse-lhes que estava bem, que não valia a pena virem logo. A Sílvia, decidida como é, achou que eu estava muito ofegante e, por iniciativa própria, veio andando.

Fez muito bem! A presença dela jamais me perturbaria!

Preparações entre contracções

Em minha casa estava a minha vizinha Lena, e, entretanto, chega a sua filha, a Carmen. Já tinha que parar durante as contracções e agachar-me, mas desta vez, nada me demovia de fazer o Bolo de Iogurte e o Chá da Naolí!

O Miguel entreteve-se a registar as contracções. Faz parte! É da praxe masculina! Estava tudo pronto quando a Sílvia chegou. As minhas vizinhas foram embora.

Uma noite especial

Decidi ir até à piscina molhar as pernas.  Estava uma noite maravilhosa. A Sílvia já não me largou. Rimos, não me recordo com o quê. Boa disposição abundava! A dor nas pernas só passaria com a massagem do Miguel.

Chegou a minha Parteira! Yes!! Estávamos todos!!

O Miguel assume o seu papel

O Miguel entrou ao serviço! Fomos para a sala. Entretanto, a Rita, que andou animada com todo o ambiente, decidiu ir dormir. E, através da minha Rita, tive as poucas referências de horas durante todo o processo.

Foi dormir por volta da 1h e dizia que ia acordar às 2h!

O Miguel levou para a sala uma cadeira de baloiço que os pais de uma mamã de Janeiro – a Ana – me tinham oferecido.

Que grata estou por esta prenda! Foi tão útil esta cadeira!!

O conforto antes do grande momento

Comecei a sentir frio.

A Sílvia depressa ajudou com uma mantinha e o saquinho de caroços de cereja que a minha Parteira me tinha oferecido. Soube tão bem todo este quentinho!

A Parteira chamou-me à atenção se precisava mesmo de estar assim tão tapada e aquecida… Disse-lhe que sim, que me estava a saber lindamente.

Enquanto ia sendo massajada, já não me lembro a que propósito, conversámos e rimos sobre algumas das minhas aventuras escolares.

O ambiente era perfeito! Divertido e íntimo!

Depois da massagem do Miguel, o desconforto nas pernas passou. As contracções eram bem regulares, na intensidade e nos intervalos. Dormi entre elas e recordo-me de beber muita água.

O Miguel começou a questionar se não era melhor ir preparando a piscina para o caso de eu a querer utilizar…

Eu sempre tinha dito que não sabia se queria utilizar a piscina, e na minha cabeça de Doula, se quisesse, eu sabia que era tão rápido preparar que não queria que fosse preparada com muita antecedência, porque aí, também a minha cabeça de Doula sabia que a probabilidade de a utilizar seria bem maior, quer quisesse, quer não…

Enfim… mas o maridão não se calava com o assunto, e depois percebi… Ok, ele precisa de se ocupar…

Dei-lhe luz verde para que o fizesse.

Uma reviravolta inesperada

Depois de uma boa leva de contracções e um dormitar perfeito entre elas, veio de repente uma vontade tremenda de vomitar.

Vomitei apenas água. Foi-se a água e veio um pico de adrenalina que não consegui perceber… acho que nem eu, nem ninguém! Uma espertina, uma vontade de falar, de arrebitar, que me baralhou totalmente.

Pensei para mim:

Mas que fase é esta? Aonde estou eu no processo?

A preocupação com os sinais vitais

A seguir a esta fase, recordo-me apenas de um início de preocupações…

Enquanto a Parteira ia vigiando os batimentos do Tiago, reparei que os valores eram mais altos do que era costume…

A minha temperatura corporal também estava elevada…

Não havia febre, nem os batimentos assim tão alarmantes…

Mas interpretei isto como um sinal de alerta e o risco de infecção veio-me automaticamente à cabeça.

Entre mim e a minha Parteira, os olhares eram de sintonia e com alguma preocupação, mas por outro lado, eu sentia-me bem! Algo menos certo estava a acontecer…

A decisão de entrar na água

Decidi:

Ok, vou para a piscina, mas com a água bem abaixo do que seria normal.

Sim, porque para mim banho de imersão é com água a escaldar.

Já tinha alertado todos para esta questão, e que teriam que pôr-me na ordem com os calores, porque para mim é tudo bem quentinho…

A incerteza na piscina de parto

O Miguel preparou tudo. Fui para o quarto, vesti o bikini. Ao despir as cuecas descartáveis, um calafrio no estômago.

O líquido parecia estar um pouco diferente!

Mau, pensei! Seria este o sinal? Mas depressa a Parteira procurou mais luz. Foi à cozinha com a Sílvia, e quando regressaram tranquilizaram-me:

Está igual! Está tudo bem com o líquido!

Mas os batimentos do Tiago continuavam mais altos do que o que nós gostaríamos.

Entrei na água, estava “fresquinha”, abaixo dos valores mínimos supostos.

Na cabeça tinha as aprendizagens de algumas coisas que tinha conversado com a Cornelia relativamente ao bebé e à temperatura da água a seguir ao parto.

Achei por bem aplicá-las no parto. Pensei:

Os batimentos do Tiago poderiam estar a subir, por eu estar tão aquecida…

Recordo-me que tive muito pouco tempo na piscina, a entrada não foi de todo agradável…

A água estava “fria”… mas tinha que ser… A vigilância dos batimentos sempre cada vez mais cerrada, e os valores mantinham-se…

Os olhares de preocupação entre mim e a minha Parteira agudizavam-se. Sabíamos o que ia na mente uma da outra…A hipótese de ir para o hospital… Mas, por outro lado, eu sentia-me bem…

Algo não batia certo…

Fiquei com a cabeça a mil… Procurava soluções…Tentava interpretar os sinais…

A Sílvia, cada vez que trocava olhares comigo, transmitia-me apenas o que eu precisava, nem mais nem menos:

Confiança!

O Miguel, esse esteve sempre “ao meu lado”. O meu marido conhece-me muito bem.

A decisão de mudar de estratégia

Decidi sair da piscina de parto e ir para a banheira do meu quarto.

Queria dar com água mesmo fria na barriga!

Saí da piscina (permaneci lá muito pouco tempo…) e assim fiz.

Tomei duche de água praticamente fria, e na barriga dava com o chuveiro com água totalmente fria…

A minha Parteira sempre a vigiar os batimentos do Tiago, e finalmente um sinal positivo:

Desceram suavemente!

Pensei:

Ok, é isso! Estou muito quente, apesar de não ter febre e de me sentir bem… mas para ele estou quente!

Na minha cabeça, a última das hipóteses:

Vou para a piscina da rua. Se com isto os batimentos dele não forem aos valores que queremos, vou para o hospital.

Disse à Parteira que queria ir para a piscina da rua.

Ela, sem palavras, percebeu perfeitamente que seria a nossa última tentativa de regularizar a situação em casa, e concordou.

Assim fiz!

A última tentativa na piscina da rua

Eram 3 horas da manhã. Na rua estava frio. Perguntaram-me se tinha a certeza.

Claro que tinha! Tinha que tentar tudo o que estava ao meu alcance.

Pedi para avisarem a Enfª Chefe do Bloco de Partos, tal como tinha sido conversado.

Entrei na piscina!

Que frio! Mas tinha que ser!

Mergulhei! Queria arrefecer-me por inteiro!

Nadei! Nadei cheia de frio, mas quente de tanta preocupação…

Determinada, mas ao mesmo tempo insegura se estava a proceder bem, passados alguns minutos, decidi que queria ligar à Cornelia.

Pedi à Parteira para falar com ela.

Pela primeira vez, ouvi o que os nossos olhares andavam a transmitir:

A Sandra está quase com febre e os batimentos do Tiago também estão a subir!

Isto foi o que eu registei…

Percebi que, do outro lado, o feedback tinha sido naturalmente negativo.

O momento de confiança na intuição

Quis eu falar com a Cornelia. Tinha que transmitir-lhe o que eu sentia! E eu fisicamente sentia-me bem, não me sentia de acordo com os “números”.

Expliquei-lhe que tinha ido para a piscina da rua em busca de água fria, mas que me permitisse imergir todo o corpo. E ela confirmou que tinha sido a decisão certa.

Se ao fim de 20 minutos os batimentos do Tiago não baixassem, aí teríamos que ir…
Ir para o hospital, claro…

O Miguel, em casa, foi abrir as janelas. Percebeu e verbalizou que a casa estava quentíssima.

Apagou as velas, que eu tanto tinha pedido, mas que agora não podiam ser.

Qualquer fonte de calor seria para eliminar!

E o ele percebeu isso!

Ok, se este é o caminho, vamos a isto…

Continuei na piscina, as contracções doíam, finalmente comecei a senti-las muito fortes. O frio não ajudava…

Falei com o Tiago, pedi-lhe por tudo que me desse a confirmação de que ele estava bem!

Pedi-lhe muito! Estava a viver uma angústia tremenda…

Sabia bem o quanto custa planear um parto em casa e terminar no hospital…

Mas estava bem consciente de que se tivesse que ser, seria, e seria o Tiago que daria as ordens. Sim, o Tiago, porque eu sentia-me bem.

O alívio e a confiança da equipa

Finalmente o alívio!

A vigilância dos batimentos confirmava que estávamos no caminho certo…

Baixaram… até que chegaram aos valores desejados!

Yes!

O olhar da minha Parteira confirmava tudo.

A Sílvia e o Miguel, com os seus olhos, silêncio e presença, transmitiam-me muita confiança.

Em momento algum senti medo nos seus olhares, senti que confiavam em mim e estavam comigo nas minhas decisões!

Tão importante!

As contracções estavam ainda mais fortes… bem fortes finalmente!

A urgência do corpo e a entrega total

Saí da piscina e entrei na cozinha

Uma vontade tremenda de fazer xixi… Não deu sequer tempo de ir à casa de banho…

A Parteira diz: Faz mesmo no resguardo! …mal sabia ela da quantidade… mas adiante! As dores eram fortes, muito fortes!

De repente, senti-me a “noutra dimensão” e recordo-me de pensar:

É a endorfina a ajudar-me!

Verbalizei:

Acho que vou à partolândia…

Mas depressa pensei que não podia, ou melhor, não queria… Tinha que me manter atenta aos sinais…

As dores eram cada vez mais fortes… Senti que estava a entrar numa fase tão desejada… Os meus sons acordam a Rita!

Eram 5 da manhã!

Fiz questão de lhe dizer que estava bem. Minha querida Rita! Abraçou-me e o Pai juntou-se ao abraço!

Que bem que soube aquele curto momento!

Estava tudo como tinha desejado…

Mas a minha  cabeça continuava a pensar e decidi que queria ir para o quarto, parir na cozinha não estava nos meus ideais…

O momento da entrega total

Cheguei ao quarto, as dores eram muito, muito fortes!

De gatas na cama, começo a pensar que aquele era o momento em que, se pudesse, desistia de tudo…

Percebi então que definitivamente faltava pouco…

Pensei no quanto é fácil querer a epidural… Pensei em tanta coisa…

Mas o medo de que o Tiago voltasse a subir os batimentos cardíacos veio-me à cabeça. Quis entrar na água, mas mais uma vez teria que ser “fria”

Não queria dar oportunidade a retrocessos.

Entrei na piscinaUi! Que desconforto… Logo eu, que gosto tudo bem quentinho…

Mas tinha que ser…Os batimentos do Tiago assim o exigiam!

Ele estava bem assim! E eu… bem… eu tinha que me aguentar…

O Miguel a apoiar-me, mas de fora da piscina… Cheguei a pensar que seria bom tê-lo do lado de dentro…

Mas também pensei que a água, à temperatura que estava, seria desconfortável para ele.

Procurava descansar entre as contracções…

Mas os pensamentos andavam a mil e, com eles, vinham-me à memória muitas das Mães que acompanhei…

Procurava nelas força e motivação para ultrapassar a intensidade das dores.

As contracções cada vez mais seguidas e, com elas, uma pressão tremenda no ânus!

A dor e a pressão que sentia diziam-me onde estava no processo e o que tinha que fazer.

A necessidade de alívio e controlo

Tinha que fazer força, porque só assim sentia alívio…

Tinha que fazer pressão no sacro, porque isso também me aliviava e o Miguel ia-me segurando…Vieram-me os calores! Faltava-me algo que eu sabia que ajudava tanto…O paninho molhado e fresco!

Pedi à Sílvia!

Que alívio! Bendito pano!

A minha Rita sempre ali, ia fazendo-me umas festas…

A sua mão pequena e suave ajudava-me a focar no tão desejado parto, que ela também imaginou e sempre pediu que fosse em casa.

A pressão no ânus exigia muito de mim…Pedia-me força, muita força…Mas eu não queria lacerar…

Com esta pressão no ânus, veio-me à memória as mães que acompanhei e que tanto sofreram no pós-parto com o hemorroidal…Tinha que o evitar…

Conforme fazia força, com uma mão ora pressionava o sacro, ora apoiava o ânus e gritava…Mas tentava não esforçar a garganta…

Tentava colocar a voz, gemer, o que fosse necessário, só para aliviar a dor…

E pensava:

Para quando o ardor??!!!

Sabia que teria que estar para muito breve…Mas para quando? Quanto tempo mais? E assim continuava…

Fazia força, mas só o suficiente para sentir o mínimo de alívio…

Queria tanto não lacerar…

A surpresa do amanhecer

De repente, apercebi-me de que, apesar do escuro em que estava o quarto (fiquei depois a saber que a Rita e a Parteira tinham fechado as portadas para eu não perceber o amanhecer), já era dia!

Verbalizei o meu espanto por já ser de manhã!

Na minha cabeça, a noção clara de que já estava há um bom tempo naquele ritmo…

Ritmo esse que estava a exigir bastante de mim…

Mas tudo bem, sabia que era assim!

A pressão no ânus mantinha-se tremendamente forte em cada contracção…Sabia que era a cabecinha do meu Tiago!

Que alento, mas que esforço! Por momentos, sentia-me cansada… Apetecia-me descansar…

Mas o corpo não o permitia… já nada permitia… As contracções vinham a grande velocidade…

O momento do ardor

Finalmente o ardor!

O tão falado ardor, e que eu, da minha Rita, não tinha tido oportunidade de sentir…

Pensei, pensei… que era o momento de acalmar o impulso de fazer força e dar tempo aos tecidos e ao Tiago…

Infelizmente, também sabia que o tempo não seria infinito…

Era agora!

A saída da cabeça

De fora, a Parteira ia verbalizando o que via…

Já via a cabecinha do Tiago!

A Parteira queria auscultar os batimentos, mas isso doía… doía muito…

Qualquer coisa que tocasse na barriga naquele momento era insuportável!

Primeiro, pedi-lhe que não o fizesse…

Na vez seguinte, “ralhei-lhe” mesmo!

Fui apanhada de surpresa com este desconforto… este eu não estava à espera…

Até que, com mais uma leva de contracções, sinto a cabeça a sair…

O apoio fundamental no momento do nascimento

De fora, todo o apoio que uma mulher precisa neste momento:

  • Os braços do do homem que amamos
  • As carinhosas mãos da minha Rita
  • O olhar de coragem e confiança da minha Sílvia
  • O olhar e mãos apostos da minha terna Parteira, que eu sabia que ia ter presente os meus desejos para este tão importante momento!

E assim foi… tranquilamente saiu a cabeça do Tiago.

Com as minhas mãos, fui senti-la, senti o cordão, bem folgado, e verbalizei-o à minha Parteira.

Na próxima contracção, comecei a sentir a cabeça a rodar…

A minha Parteira sabia o quanto eu sou fã deste momento, como tal, sem tocar, ia descrevendo tudo o que estava a acontecer…

E recordo-me de lhe dizer:

“Eu estou a sentir!”

Foi tão bom sentir tudo isto… mas tão bom!

E, quando dei por mim, já tinha o Tiago no meu peito.

E com ele, uma sensação única de que TODOS tínhamos conseguido, mas ele tinha sido o grande resistente!

O momento íntimo a quatro

Entre choros emocionados e risos de alegria, vejo que o meu Tiago era IGUAL à minha Rita!

Incrível! Fiquei ainda mais emocionada!

Entretanto, eu, o meu marido e os meus filhos já estávamos a sós. Tal como tinha pedido!

Queria uns poucos minutos a quatro!
Mas depressa senti a falta da Sílvia e da Parteira…

Na verdade, depois percebi que dependendo do ambiente que nos é criado, menos há essa necessidade.

Pois aquele momento de emoção era dos 6!

O nascimento da placenta

Voltámos a estar todos, e agora focados num momento igualmente importante:

Faltava a placenta!

Saí da água… estava fria… e agora sim, não havia porquê lá continuar!

A minha cama foi onde nasceu a placenta… após uma hora…

Pequenina, sem qualquer sinal de calcificação.

Foi minuciosamente observada e fotografada.

Para a saída da placenta, quisemos mais uma vez ter a opinião da Cornelia, por causa da temperatura da água e as suas possíveis implicações.

Querida Cornelia! Foi tão bom ouvir a voz dela por telefone!
A felicidade sentia-se apesar dos milhares de quilómetros que nos separavam.

Também ela estava a viver este parto!

Não esteve presente fisicamente, mas sempre nos disse que estaria disponível como se estivesse.

E esteve!

A amamentação e os primeiros momentos

O Tiago já estava agarrado à mama! Tal como a irmã, pegou melhor na mama direita!

Espertinhos…

Entretanto, a Sílvia e a Rita já tinham ido fazer o desenho com a placenta…

Tenho pena de não ter estado com elas…

O Miguel tratou de arrumar tudo.

A vitória sobre o medo da laceração

Depois, a boa notícia de que não tinha lacerado!

Yes!

Todo o esforço tinha valido a pena!

Definitivamente, depressa e bem não há quem! Queria tanto não lacerar…Queria perceber como o poderia fazer e, felizmente, consegui!

A visita da Doula e a reflexão final

A minha querida Doula, assim que pôde, veio ter connosco.

Veio tratar da placenta!

Sim, serviu para fazer umas coisas giras…

Quando revejo o que vivi neste parto, percebo ainda melhor tanta coisa que tenho vivido com as Mães que acompanho e com as parteiras estrangeiras que tenho conhecido.

Muito lhes devo este meu parto…

A elas e a todos os que estiveram comigo.

Mas devo-o principalmente ao meu Tiago e à minha Rita.

Eles sim, foram a maior fonte de motivação, força e coragem.

Por um nascimento o mais saudável possível, da dor ao prazer, por vocês valeu a pena cada segundo e sensação!

Os vossos partos foram, sem dúvida, os grandes momentos da minha vida!

Obrigada, meus filhos!

Ainda sobre este meu parto tens:

📖  Como Organizei o Meu Parto em Casa

🎥 O vídeo do meu parto no Youtube

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