“O que leva uma mãe de segunda viagem a querer mudar o tipo de parto quando o primeiro tinha
corrido “bem”?”

A resposta é a mudança de paradigma e de intenção.

Na minha primeira gravidez fiz a preparação para o parto tradicional e recebi informação sobre procedimentos e protocolos médicos habituais que não questionei!

A minha intenção era não ter dor e assim foi, de tal forma que nem as contrações sentia…conclusão, como costumo dizer, tive um parto normal com tudo incluído!
Soro, ocitocina, epidural, rompimento artificial de membranas, episiotomia, ventosa e até manobra de Kristeller!

Na época (2010) aceitei tudo com naturalidade…afinal não tinha tido dores…estava tudo bem, eu nem sabia o que eram e para que serviam estas “coisas” todas!

Com o tempo foram-se levantando algumas questões sobre o porquê de alguns procedimentos que não percebi e nesta gravidez já procurei outro tipo informação, uma informação mais consciente e isenta. Falei com pessoas que tinham tido partos diferentes do “normal”, fiz um curso sobre nascimento consciente, pesquisas na internet e as informações começaram a cair como bombas na minha cabeça! Afinal era tudo oposto ao que aconteceu no primeiro parto e também oposto ao que é considerado “normal” que de normal não tem nada…Estaria eu disposta a mudar de paradigma? Será que todas estas informações novas eram realmente o melhor para o parto? Para mim e para o bebé???Porque será que a OMS tem uma série de recomendações e os hospitais não as põem em prática??!!! Bem andei umas semanas/meses meio perdida…até que comprei o livro “Nascer Saudável” que me ajudou muito, pela componente científica que tem, a esclarecer dúvidas e finalmente a tomar decisões sobre o que realmente queria para este parto.

Para mim foi importante o livro ser isento de opinião, tem um caracter muito informativo com recurso a muitos estudos clínicos, o que realmente é muito
importante para quem quer tomar decisões de forma consciente! Para mim um manual super, híper, mega útil e indispensável a todas as grávidas!
A minha intenção para este parto era que fosse o mais natural e humanizado possível. Decidido tipo de parto que queria ter faltava encontrar o local! Das pesquisas e informações que tinha sabia que o Centro hospitalar Vila do Conde /Povoa do Varzim era o único hospital que se podia encontrar de acordo com as minhas intenções! Um bocadinho longe de casa, 40/50 minutos de viagem, mas nada que não se fizesse se o local realmente valesse a pena.
Marcamos então a visita ao serviço de obstetrícia do hospital e realmente tudo parecia ser de acordo com as informações recolhidas. Sem qualquer tipo de entrave burocrático e sem qualquer tipo de encaminhamento feito pelo centro de saúde, da minha área de residência, fiquei logo inscrita para as aulas de preparação para o parto. Aulas estas que vieram confirmar as minhas expectativas. Neste hospital as aulas são muito informativas! É nos explicada a fisiologia do parto e as várias opções para cada parto! Aqui não há protocolos de parto, nem protocolos e procedimentos, ditos normais, iguais para todas as parturientes! Cada parto é um parto onde a mulher é o centro! Nestas aulas é explicado aquilo que já tinha lido no livro da Sandra! Portanto para mim não foram uma novidade
mas foi, mais uma vez, o confirmar de que aqui é possível ter um parto humanizado e respeitado!
Lembro-me perfeitamente numa das aulas uma enfermeira falar da importância do consentimento informado, tantas vezes referido no livro. A enfermeira dizia: perguntem-nos, tirem as dúvidas, não deixem que nada seja feito sem um consentimento informado! Onde é que se vê disto noutros hospitais??? No meu primeiro parto a única pergunta que me fizeram foi se queria epidural…tudo o resto foi decisão deles sem sequer me informarem sobre o que iam fazer…Até para cesariana me iam mandar sem perguntar se queria e explicarem o porquê de estarem a ponderar essa situação…nós é que as ouvimos falar sobre essa hipótese e dissemos que não queríamos…então aí decidiram utilizar a ventosa e a manobra de kristeller sem questionar. Ou seja, tudo menos consentimento informado…
Fui também conhecendo as enfermeiras/parteiras e percebi que também estavam alinhadas com a filosofia do hospital. Ou melhor penso que o hospital é que se alinhou à filosofia da equipa e isso é fantástico porque sente-se a motivação e o gosto com que trabalham estas funcionárias públicas,
que não encaixam de todo no estereótipo do setor. Entretanto chegou a hora de fazer a consulta de plano de parto, uma consulta onde nos é
questionado quais são as nossas preferências para o momento. Não que não possamos mudar de preferências na hora, mas serve para a equipa ter noção de que tipo de parto esperamos e alinharem o seu trabalho de acordo com o plano. Este plano fica lá arquivado e quando damos entrada em
trabalho de parto só precisamos informar que ele está lá. É impressionante reparar como até para marcar consultas são preocupados e atenciosos. O David,
secretário do serviço tinha sempre o cuidado de me agendar as consultas no dia do curso de
preparação, pois sabia que era de longe!
Fui então acompanhada em consulta semanal, a partir das 37 semanas até às 41. Chegada esta data a minha ansiedade disparou…estava com receio que os médicos me pressionassem para provocar o parto, opção que eu não queria, mas só de pensar que podia entrar ali em conflito com o obstetra
causou-me muita ansiedade. Mas até aqui fui muito bem acolhida com a minha opção. A Dr.ª Corália compreendeu e apoiou a minha opção e a enfermeira Patrícia teve o cuidado de ficar a conversar comigo um bocadinho, situação que me tranquilizou bastante. Passei então a ter consulta de 2 em 2
dias até que o rebento bateu à porta às 41s+4d.

 

Foi um longo trabalho de parto mas não
podia ter corrido melhor! Entrei por volta das 17h e o Vicente nasceu 05h30. Passei por duas equipas de enfermeiras e às duas tenho de enaltecer o cuidado, carinho e atenção com que nos trataram! Sempre preocupadas em satisfazer as minhas necessidades, muito empenhadas em cumprir o meu plano de parto, posso até referir que na hora estava na dúvida em usar ou não a piscina, opção que tinha escolhido no plano, mas foram as próprias enfermeiras que decidiram prepara-la para o caso de eu decidir usar. É emocionante perceber como nos apoiam e se preocupam com o nosso bem-estar sem, no entanto, invadirem a nossa privacidade e liberdade. É emocionante lembrar da paciência que a Enfermeira Rosa teve, monta cama, desmonta cama, aquece água da piscina, foi buscar chá, foi buscar gelatina, agora quero assim, agora quero assado, não estou bem aqui, não estou bem ali…bem, devo ter sido uma parturiente um bocadinho chata, mas enfermeira foi incansável, sempre preocupada em perceber e satisfazer as minhas necessidades…não há palavras suficientes para mostrar a minha gratidão! O que é certo é que aconteceu tudo a seu tempo e tempo é o que não falta naquele bloco. Posso partilhar que mal nasceu, o Vicente foi-me colocado no peito e só de lá saiu às 8h da manhã, porque ia trocar de turno e a enfermeira perguntou se eu queria que ela o vestisse ao que eu assenti. Só neste momento foi pesado e medido…volto a perguntar onde é que se vê disto? Suspeito que nem no privado…. Guardo com muito carinho o cuidado que teve de vir conversar um bocadinho e de se despedir com dois beijinhos antes de terminar o seu turno, são pequenos gestos que fazem toda a diferença e que jamais esquecerei.
É emocionante lembrar a simpatia e o carinho da enfermeira Sílvia e da enfermeira Marília, com quem me cruzei várias vezes desde a preparação para o parto até ao momento da alta. Mesmo as auxiliares são incansáveis e completamente disponíveis, fazem de tudo para melhorar o nosso conforto em instalações tão simples e antigas como é a parte do internamento. A todos os elementos do serviço só posso deixar o meu bem aja, um serviço digno de uma distinção de mérito e excelência.
À Sandra muito obrigada por teres posto no papel tudo aquilo que um casal grávido, precisa de saber, um verdadeiro guia de gravidez e parto.
E a todos os casais que procuram um nascimento saudável e consciente, informem-se é possível!

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