Parto em Casa: como organizei o meu parto – Partilha de Sandra Oliveira
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Nota Prévia
Desde o nascimento do meu filho em 2009, acompanhei mais de 200 partos, entre os quais partos em casa.
A minha missão em 2022 na Guiné Bissau trouxe-me uma consciência ainda maior sobre a dualidade entre a simplicidade e a complexidade do parto.
Esta partilha reflecte a Sandra de 2009, e quero manter essa autenticidade, mas hoje a minha visão naturalmente que integra o que tenho vindo a aprender.
A decisão do parto em casa deve ser tomada com base em verdade e dados, e não em propaganda e muito menos corporativismos.”
Desta forma há um enquadramento e uma reflexão que considero essenciais e que podem ser lidos no botão abaixo.
Faço também a ressalva de que, na altura em que planeei o meu parto em casa – 2009 –, não era fácil conseguir duas parteiras. Além disso, não existia qualquer orientação nesse sentido por parte da Ordem dos Enfermeiros. Esse parecer ( Parecer 31/2013 ) só veio a surgir mais tarde, impulsionada pela pressão mediática após o caso que foi a tribunal.
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A minha primeira filha nasceu no hospital, tinha eu 28 anos, no ano de 2000, e foi para mim uma experiência muito feliz. Fui mãe do meu segundo filho, com 36 anos, em 2009. Era Doula há mais de 5 anos. Já tinha acompanhado 68 famílias, em que 22 partos foram em casa.
Pouco antes de engravidar, acompanhei um parto em casa que terminou tragicamente com a perda de um bebé. Esse acontecimento teve repercussões anos depois, devido a um novo caso semelhante. Fui chamada a testemunhar contra a parteira responsável, pois presenciei uma conduta que considerei negligente.
“Toda a situação vivida fez-me refletir muito.” Estando na altura (e agora não muito diferente) a opção do Parto em Casa em Portugal ausente de regulamentação e boas orientações,.
Desta forma vi-me obrigada a criar as condições que considerei essenciais e com base em referências de países onde o parto em casa é uma opção do sistema.
“Segurança total, ou sem riscos é algo que não existe no parto. Apesar de admirar a natureza, tenho bem presente que a seleção natural existe. Estarmos conscientes disto é essencial, para que as decisões sejam em total responsabilidade.”
. Vigilância da Gravidez
Optei por fazer a vigilância da gravidez com base no Modelo de Parteira (no meu caso, uma Enfermeira Especialista em Saúde Materno-Infantil – EESMO).
“Sabia que estas profissionais não tinham qualquer apoio do Sistema Nacional de Saúde (SNS) para exercer de forma privada, nem podiam prescrever exames. Por isso, optei também por ser acompanhada no Centro de Saúde, intercalando as consultas da EESMO com as do médico de família.”
✅ Iniciei a Vigilância com a minha Parteira no final do primeiro trimestre, depois das primeiras análises feitas.
✅ Fiz as 3 ecografias, sendo que a última optei por fazer mais próxima da data prevista de parto. A ecografista percebeu perfeitamente.
✅ Feitas num local especializado em ecografias materno-fetal.
✅ Decidi fazer a análise do Estreptococos B, para gerir melhor os limites em caso de rotura de bolsa e seguir minimamente a prática instituída por cá, salvaguardando também a minha Parteira.
A escolha da Parteira foi feita com intuição e ponderação. Os motivos que me levaram a escolhê-la foram:
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Honestidade e empatia genuínas.
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Frontalidade ao admitir inexperiência e inseguranças.
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Atitude humilde, mas firme.
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Defesa de um parto em casa enquanto a dor não se transformasse em sofrimento traumático.
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Flexibilidade e adaptação às necessidades da Mãe/Bebé.
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Não utilização de fármacos, excepto em urgências, e prioridade para a transferência em situações necessárias.
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Profissionalismo aliado a características humanas fundamentais para mim.
2. Apoio Emocional e Físico
Queria que o Pai dos meus filhos estivesse presente apenas como companheiro e pai, sem a preocupação de interpretar o que eu sentia ou como me apoiar.
“Para isso, sabia que precisava de mulheres ao meu lado. Mulheres que me compreendessem, confiassem em mim e tivessem personalidade suficiente para me chamar à razão, caso fosse necessário.”
Fui acompanhada por uma mulher que já conhecia há alguns anos e que tinha acompanhado no seu segundo parto. A minha Doula apesar de ausente, também esteve sempre em mim, pois somos “almas gémeas”.
3. Família e Amigos
“Naturalmente, todos me questionavam onde seria o Parto. Respondi sempre com total honestidade: enquanto tudo estivesse bem, ficaria em casa. Se necessário, iríamos para o hospital.”
Conversei muito com a minha filha, que queria assistir ao parto. A sua maturidade surpreendeu-me:
“Mãe, eu sei que até tu podes morrer. Eu sei isso tudo, mas gostava que fosse aqui em casa, porque quero estar contigo.”
Foi ela quem escolheu quem ficaria com ela no hospital, caso houvesse transferência.
4. Plano de Transferência
“A segurança para mim significava ter um plano de transferência bem estruturado, e não simplesmente acreditar que tudo correria bem.”
✅ Contactei o Hospital da minha zona e informei-me sobre o que necessitariam de saber em caso de transferência.
✅ Fui acolhida pelo Diretor de Obstetrícia e pela Enf.ª Chefe do Bloco de Partos.
✅ Foi-me dito que apenas deveríamos informar o hospital caso houvesse indícios de possível transferência, evitando pressão desnecessária.
✅ Assumi total responsabilidade desta decisão e decidi não envolver a minha Parteira nestas diligências.
Além disso, contactei os Bombeiros locais para assegurar um transporte de urgência eficiente.
“A minha casa estava dentro da distância de “segurança” recomendada noutros países (30 minutos de um hospital). No entanto, a minha experiência anterior com o INEM deixou-me insegura. Queria garantir que, caso necessário, teria um transporte rápido sem atrasos burocráticos.”
✅ Estabeleci dois contactos: um às 32 semanas e outro assim que entrei no período de termo.
✅ Deixei um documento com o meu nome, morada e telefone no quartel.
✅ O Comandante fez questão de falar comigo pessoalmente, alertando-me para alguns riscos, mas respeitando a minha decisão.
“Acredito que hoje esta possibilidade não seja tão fácil de conseguir…”
5. Declaração antecipada de vontades/ plano de parto
Fiz um Plano de Parto para o Hospital que contemplava as várias possibilidades de transferência.
Elaborei também um documento para o parto em casa, de forma a comunicar o que sentia ser relevante que soubessem e tivessem em conta relativamente a mim, e ao estar na minha casa. Escrevi com o coração e também com a razão para todos os envolvidos.
6. Início com Rotura da Bolsa sem Contrações
✅ Tive rotura da bolsa sem início de trabalho de parto.
✅ A minha Parteira monitorizou-me durante 18 horas.
✅ Assumi a minha própria monitorização depois disso.
✅ Não me foi administrado qualquer antibiótico ou fármaco.
✅ Fizemos análises ao PCR para vigiar indicadores laboratoriais de infeção.
✅ Reforcei o sistema imunitário com alimentação e suplementos.
✅ O trabalho de parto iniciou 48 horas após a rotura da bolsa.
O Tiago foi observado no dia seguinte por um Pediatra de confiança, que gostava de ter estado presente no parto.
Nos botões abaixo pode aceder ao testemunho e ao vídeo do parto
🔍 Algumas das Pesquisas que fiz e sites que consultei:
Palavras-chave para pesquisa:
- Homebirth Guidelines + Midwife
- Homebirth Studies
- Homebirth Risk
- Homebirth + Transfer Plan
- Homebirth + Transferring to Hospital
- Homebirth Emergencies
- Cochrane + Home Birth
- Parto em Casa + Ordem dos Enfermeiros
📌 Sites de referência:
- Royal College of Midwives
- Canadian Association of Midwives
- Australian College of Midwives
- Government of South Australia – SA Health
- National Health System of UK
Há muitos outros sites dedicados ao parto em casa. Recomendo explorar a informação disponível, mas também saber quando parar, para viver plenamente a gravidez e o bebé in útero. 😊
Se o parto em casa é algo em que pensas, ou já está nos teus planos, e sentes que gostavas de conversar comigo, não hesites!
Prometo-te que se te deres a conhecer, aguçarei a minha intuição para te dar o melhor do que sei, do que sou, e do que sentir que precisas para as tuas decisões. Sempre com muita honestidade.
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This document provides a detailed experience of how I organized my home birth, covering the planning, medical considerations, and my personal experience.