“Ainda não deixo que me desarmem. Firme, acabei por passar 17 horas de trabalho, para um parto aquático, tranquilo.“
No dia mais tranquilo, que começa às 5 da manhã, posso finalmente entregar a alma a uma escrita descritiva de momentos tão mágicos.
Aos 25 anos de idade senti que era o momento ideal para sustentar uma gravidez, desta vez a segunda.
Como casal estávamos, como sempre, muito amigos e apaixonados. Queríamos aumentar a família e receber de corpo e alma um ser para partilhar a nossa alegria e amor.
Passados poucos meses:
EU: Não deves estar bom da cabeça? Só eu sei o que já passei. Um parto é dureza! EU QUERO EPIDURAL!
Ele: Aceito perfeitamente. Assim o seja. Mas adorava que a minha mulher tivesse um parto natural. 100% Natural.
Esta não foi a razão da escolha. Mas despertou em mim uma vontade de ler, procurar vivências e evidências, experiências, métodos para aliviar a dor das contracções inerentes à escolha: “100% Natural”, que eu tão bem conhecia.
Numa viagem em família, na convivência com um casal especial, em terras brasileiras, que tinham tido a experiência do parto domiciliário não tinha passado nem três semanas, mudei.
Ouvir a aventura, partilhar o amor à natureza, ouvindo-a, sentindo-a, acabei por informar a família que optava pelo parto em casa 100%natural, na condição de que mais ninguém soubesse. (só precisávamos de boa energia e não incertezas e histórias macabras!).
Li, li muito.
Comovi-me muito, tanto com experiências naturais, em casa, como com experiências hospitalares, nesta altura tão tristes por natureza.
Pesquisei: doula para chegar a parteira. Venham as duas, um bom apoio nunca é demais!
Ninguém mais sabia…
Ainda não deixo que me desarmem. Firme, acabei por passar 17 horas de trabalho, para um parto aquático, tranquilo.
Que sonho, que maravilha! Um brinde à água que me deu um filho imaculado. Horas atrás estaria na cozinha, na sala, no jardim ou na casa de banho, no meu quarto em cima da cama. Cóqueras, deitada, ajoelhada ou novamente em pé. Com música ou sem ela. Sempre com o meu marido, meu amor, minha parteira! Enfim, uma canseira necessária.
Nos momentos mais duvidosos olhava e via os dois sorrisos tranquilizadores da doula e da enfermeira. Voltava em paz a fechar os olhos, a aguentar mais uma, menos uma.
Não há desenvolvimentos. Vou para a água tentar relaxar. E consigo. Dormitando entre contracções que parecem acalmar. Pareceram trinta minutos, verdadeiramente 3 horas. Saio. Volto a andar, casa de banho, cozinha, sala e quarto. No chão, no banco, no puf, na relva.
Quando voltei a mergulhar levei o meu marido. Deitada sobre ele no conforto da água morna. Apenas me lembro da tranquilidade do momento. Uma paz que permanece em mim. Estivemos os três ligados, trabalhando para o mesmo fim. Um mentalmente, outros fisicamente também. Estão fortes as contracções! Que transe em que me encontro…não sei bem se sonho se realidade, durmo sempre que consigo. Sente meu marido, é a cabeça?
É a cabeça!
Calma, calma…venham todas ver. minha querida filha Lua, sente-se aqui a olhar a piscina…
Mais uma, mesmos uma. Forte! AI! Ai! Ai!
Calma, calma, ainda falta…já está quase a cabeça. Mais uma! AI! Relaxa…o pior já passou. A cabeça está cá fora mas ainda dentro da bolsa das águas, que maravilha…é tão raro acontecer.
Mais uma e já está…bolsa rebentada, corpo na água. Foi só apanhá-lo e segurá-lo em pé para ver o sexo desconhecido…Rapaz! Lindo, é rapaz, Lua.
E envolvo-o em meus braços protegidos pelos teus, meu marido maravilhoso, que nunca duvidou da minha capacidade de ser Mulher. Nunca duvidou da natureza, da magia do amor. Olho em redor, vejo metade de mim, a minha querida filha, que mal estava a crer no que os seus pequenos olhos viam. Minha filha coragem, grande mulherzinha.
Olho melhor, a paparazzi: a doula Sandra, tranquila, feliz! Obrigada!
Outro Lopo…oh um Lopinho.. Que querido..tão pequenino..já não me lembrava… Quer mamar? Pronto, pronto…
Minha família, juntos conseguimos!
Surge então uma vaga de energia que inundou todo o meu corpo e me fez saltar da piscina, filho nos braços e gritam: Não! Calma…
Mas eu sinto-me tão bem. Estou nova. Rasgou? Pouco. Não senti nada. Já coseu? boa..Obrigada.
Muito obrigada Lua. Ainda estou de boca aberta…
Realmente, juntos é outra coisa.!