Marsden Wagner, na Conferência para o Parto Domiciliário, em Noosa, Austrália – Novembro de 2000, incluiu neste seu documento, o tema da Epidural. Responde a questões como: Porque conduz a epidural ao parto instrumentalizado? É a epidural segura? É eficaz no alívio da dor? Consideramos que este texto se aplica totalmente à realidade Portuguesa, e é uma ajuda indispensável á tomada de decisão informada e consciente, relativamente a esta anestesia para o parto.
Marsden Wagner começou a sua carreira na saúde pública como neonatologista e epidemiologista, primeiro na Califórnia e depois na Dinamarca. Reformou-se de uma ilustre carreira como director da Saúde Materno Infantil para o gabinete europeu da Organização Mundial de Saúde (OMS), actualmente é consultor para a OMS, nos países novos da Europa Central e do Leste. Presidiu as três conferências que reuniram consenso pela OMS do uso apropriado da tecnologia para a fase do nascimento, é solicitado como um dos oradores internacionais para o apoio directo a obstetras e parteiras.
“O uso epidémico da anestesia epidural para as dores normais do trabalho de parto surge praticamente com o rápido aumento do uso de potentes e perigosas drogas para a indução e aceleração. A obstetrícia Australiana nos últimos 10 anos tem gradualmente conduzido à indução farmacológica, que por sua vez leva ao aumento das dores, que por sua vez conduz à anestesia epidural, que por sua vez leva ao parto assistido com fórceps ou ventosas. Visto que cada uma destas intervenções contém riscos significativos, este encadeamento multiplica os riscos tanto para a mulher como para o bebé. Por exemplo, as contracções provocadas por fármacos têm uma intensidade e intervalo diferente, o que não só aumenta a dor como também aumenta o risco de hipoxia fetal (falta de oxigénio).
Porque conduz a epidural ao parto instrumentalizado?
Duas razões. Primeiro, como a mulher perdeu a sensibilidade da cintura para baixo por causa da anestesia, é maior a tentação do médico, de facilmente avançar e realizar procedimentos cirúrgicos. A segunda razão prende-se com a compreensão básica do processo do parto. A dor de parto é um componente essencial do trabalho de parto, porque estimula o cérebro a libertar hormonas, as quais, por outro lado, estimulam o útero a contrair a níveis normais de intensidade e de intervalos, de forma a que a circulação sanguínea da placenta possa ser mantida e não originar hipoxia fetal.
Este é um processo de resposta complicado. Com a anestesia epidural há uma interrupção neste processo conduzindo ao abrandamento ou cessação do trabalho de parto. Tentativas podem ser feitas no sentido superar este bloqueio com mais e mais estimulação do útero, através de mais e mais drogas, como a oxitocina —cenário particularmente típico no parto altamente tecnológico, onde uma intervenção requer outra intervenção, de forma a superar as complicações da primeira. Todavia, as evidências científicas são claras—mesmo com as tentativas de ultrapassar o abrandamento do trabalho de parto causado pela epidural, continua a existir probabilidade de necessidade de recurso aos fórceps e ventosas quatro vezes superiores com o uso da epidural e pelo menos, duas vezes superior de uma cesariana poder vir a ser necessária. Isto não é surpresa—este é o resultado inevitável do uso de uma intervenção, a epidural, a qual essencialmente pára o percurso do processo de parto. O único caminho pelo qual foi possível acontecer a epidemia da anestesia epidural, foi o de o procedimento ter sido “severamente vendido” pelos médicos às mulheres. A razão pela qual tantas mulheres concordam com a epidural no trabalho de parto é porque lhes é dito que é “seguro”.
Afinal é segura, a epidural? A mais importante nova tendência da obstetrícia moderna é um consenso universal que, a prática da obstetrícia deverá ser baseada nas melhores evidências científicas.
Quais são as melhores evidências científicas relativamente à segurança da epidural? Uma análise completa das evidências científicas para os riscos da epidural, mencionada anteriormente e de seguida, pode ser encontrada em dois livros.
Para começar, um procedimento dificilmente pode ser chamado de “seguro” quando aproximadamente um quarto (23%) das mulheres que levam a epidural tem complicações. São vários e sérios os riscos para as mulheres, a começar com a possibilidade da mulher poder morrer por causa da epidural. A taxa de mortalidade materna para mulheres em trabalho de partos normais que optam pela epidural é três vezes superior que para as mulheres em trabalhos de partos normais sem epidural. Em cada 500 epidurais administradas haverá um caso de paralisia temporária da mulher e de paralisia permanente em cada meio milhão de epidurais. A mulher tem entre 15 e 20% de hipótese de ter febre após ter levado a epidural, necessitando de avaliação diagnostica de possíveis infecções na mulher e no bebé, as quais podem por vezes ser invasivas, tal como uma punção lombar no bebé. Entre 15 e 35% das mulheres que levam a epidural virão a sofrer de problemas de retenção urinária depois do parto.
É a epidural eficaz no alívio da dor? Cerca de 10% das anestesias epidural não funcionam e não há alívio da dor. Mesmo quando funciona, perto de um terço das mulheres que recebem a epidural trocam poucas horas de ausência de dor no trabalho de parto por dias ou semanas de dor depois do parto. Trinta a 40% das mulheres que recebem a epidural durante o trabalho de parto terão fortes dores de costas depois do parto e 20% continuarão a ter um ano depois.
Muitos estudos científicos têm mostrado que as mulheres que levam a epidural para as dores de parto terão um período expulsivo consideravelmente mais longo. O que, por sua vez, resulta num risco quatro vezes superior relativamente ao recurso a fórceps ou ventosa e, no mínimo duas vezes maior de cesariana, e estas intervenções médicas durante o parto também levam aos seus próprios riscos. Enquanto muitas mulheres podem de livre vontade correr riscos para com elas próprias, é altamente irrazoável que de livre vontade coloquem os seus bebés em risco. Uma complicação frequente na mulher, depois da epidural iniciar o seu efeito é a súbita queda de pressão, originando uma redução da corrente sanguínea que vai através da placenta ao feto, resultando de uma suave a severa falta de oxigénio para o feto, como pode ser visto no monitor dos batimentos cardíacos fetais. Noutra estratégia típicamente “hich-tech” de uso de uma segunda intervenção de forma a remediar os efeitos da primeira, os técnicos de saúde administram na mulher uma grande dose de líquidos via intra venosa, de forma a tentarem prevenir a queda de pressão arterial causada pela epidural, mas isto nem sempre resulta. Na falta de oxigénio para o bebé durante a epidural recai a possibilidade, e o Colégio Americano de Obstetrícia e Ginecologia informa que a monitorização cardíaca fetal mostra severa hipoxia fetal de 8 a 12 por cento dos bebés cujas mães foi dada a epidural para as dores normais de parto. Há outros riscos para o bebé, alguns dados, inclusive sugerem função neurológica reduzida até um mês de idade dos bebés. A mais recente inovação na anestesia epidural, como a mudança do tipo de fármaco usado ou a quantidade, ou a “walking epidural” (epidural que possibilita o movimento) não eliminam estes riscos nem para a mulher, nem para o bebé.
Uma das razões para a epidemia da epidural em muitos países, é que à mulher não são transmitidos os factos científicos acerca de todos os riscos para ela e para o seu bebé quando a epidural é administrada durante o trabalho de parto. Na verdade, numa reunião de anestesistas obstetras nos EU, foi levantada a discussão de como prevenir que a informação dos riscos da epidural chegasse a público. A desculpa utilizada, foi a típica abordagem padrão de alguns médicos: “ Não queremos assustar as senhoras.” É absolutamente necessário que a qualquer mulher que seja oferecida a epidural, lhe sejam transmitidos todos os factos científicos acerca dos riscos, antes que ela assine o termo de responsabilidade.
Com todos estes riscos da anestesia epidural para a mulher e bebé, porque razão os médicos encorajam a mulher a utilizá-la? Estudos mostram que os técnicos de saúde preferem que as mulheres levem a epidural porque assim ela fica calma e submissa. Além disto, é o frequente uso da anestesia epidural para o parto que criou uma nova especialização médica, anestesiologia obstétrica, a qual é altamente lucrativa e próspera—prova disso é os jornais de anestesiologia obstétrica conterem anúncios a incentivar os médicos a adquiriram aviões privados.
Referências:
Wagner M Pursuing the Birth Machine: the Search for Appropriate Birth Technology, ACE Graphics, Sydney & London 1994 (disponível em www.amazon.com)
Goer, H The Thinking Woman’s Guide to a Better Birth Penguin Putnam, New York, 1999 (disponível em www.amazon.com)
Fonte: Birth International
Tradução para português: BioNascimento