O National Institute for Health and Care Excellence (NICE) do Reino Unido é uma referência internacional relativamente ao rigor científico das suas recomendações, e frequentemente referenciado por diversos países nos seus documentos locais ( nomeadamente a nossa Direção Geral de Saúde). Daí que seja importante para todos os envolvidos na saúde , seja quem presta cuidados, seja quem os recebe, ter este instituto como fonte de informação.

No passado dia 10 de Dezembro o NICE, um ano após publicar as Recomendações para os cuidados intraparto para grávidas e bebés saudáveis , divulga as suas declarações de qualidade para avaliação dos resultados dessas mesmas recomendações. Entendemos por bem traduzi-las e os respectivos princípios lógicos apresentados:

1. Às mulheres classificadas de baixo risco para o trabalho de parto, deverá ser dada a opção dos 4 locais de parto possíveis e informação sobre os resultados dos partos desses locais.

As mulheres de baixo risco durante o trabalho de parto e parto precisam de informação sobre os locais de parto da sua zona ou arredores, relativamente a segurança e resultados nas mulheres e bebés, dos diferentes locais. Esta informação irá ajudar as mulheres a tomarem decisões informadas de onde terem os seus bebés.

2. As mulheres com trabalho de parto estabelecido deverão ter cuidados de um-para-um e apoio por parte da Parteira que lhe for atribuída.

O cuidado de um-para-um irá aumentar a probabilidade de a mulher ter um parto vaginal “normal” sem intervenções, e irá contribuir tanto para a redução do tempo de trabalho de parto como dos partos intervencionados. Os cuidados não terão que ser prestados necessariamente pela mesma parteira durante todo o trabalho de parto.

3. As mulheres de baixo risco não devem fazer cardiotocografia (CTG) na avaliação inicial do trabalho de parto.
A cardiotocografia não é apropriada na avaliação inicial do trabalho de parto, em mulheres de baixo risco. Isto porque pode levar a intervenções desnecessárias e que não proporcionam qualquer benefício para o bebé.

4. As mulheres de baixo risco que tenham que fazer cardiotocografia devido a auscultação intermitente não tranquilizadora, deverá ser parada após 20 minutos de traçado normal.

A cardiotocografia é oferecida às mulheres, quando a auscultação intermitente indicar possíveis anomalias nos batimentos cardíacos fetais. No entanto, sempre que a cardiotocografia for iniciada por este motivo, deverá ser parada ao fim de 20 minutos de traçado normal, porque restringe os movimentos da mulher e pode levar ao abrandamento do trabalho de parto. O que por sua vez pode desencadear uma cascata de intervenções que podem levar a resultados adversos no parto.

5. Às mulheres de baixo risco com progressão normal do trabalho de parto não é oferecida amniotomia ou oxitocina artificial .

Para as mulheres de baixo risco de complicações, a amniotomia e a oxitocina não reduz a incidência de cesariana; não aumenta a incidência de parto vaginal espontâneo ou contribui para melhores resultados neonatais. São assim intervenções desnecessárias para mulheres de baixo risco se o trabalho de parto estiver a progredir normalmente.

6. Não clampeamento do cordão umbilical antes do primeiro minuto, excepto se houver preocupação com a integridade do cordão ou com os batimentos cardíacos do bebé.

Os benefícios de adiar o clampeamento do cordão umbilical incluem maior concentração de hemoglobina, uma diminuição do risco de deficiência de ferro e maior estabilidade vascular nos bebés. Se as mulheres desejarem, poderão solicitar aos profissionais de saúde para esperar mais tempo para que o clampeamento seja feito.

7. Mulheres devem fazer contacto pele-com-pele com os seus bebés após o parto.

O contacto pele-com-pele com os bebés imediatamente após o parto tem demonstrado promover um bom início da amamentação e proteger contra os efeitos negativos da separação mãe-bebé.

Olhamos para estas declarações e princípios lógicos como uma ferramenta de comparação relativamente aos cuidados prestados no nosso país durante o parto. Acreditamos que a informação não manipulada é fundamental para a mudança para melhores cuidados e o apoio a decisões conscientes, pelo que desejamos sinceramente que a tradução possa ser útil tanto para profissionais, como para utentes.

Deixamos o link para os mais interessados poderem consultar na íntegra no site do NICE:
http://www.nice.org.uk/guidance/qs105

Sandra Oliveira para Bionascimento

14 dezembro 2015


Nota do Tradutor (NdT) – No Reino Unido os quatro locais de parto que estão previstos pelo sistema são: parto em casa, unidade de parteiras fora de ambiente hospitalar ( mais conhecida em Portugal por casa de partos), unidade de parteiras em ambiente hospitalar, e unidade de obstetrícia. As unidades de parteiras, seja no hospital ou fora do hospital, são da responsabilidade clínica das parteiras.
NdT  – A auscultação intermitente nas recomendações para o parto de baixo risco no Reino Unido está recomendada ser feita com Pinard ou Doppler.
NdT  – Amniotomia: rotura artificial do saco amniótico
 
 

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