“Com este descrição, espero ter conseguido transmitir como o parto da Beatriz foi uma experiência fantástica.”
A gravidez da Beatriz foi programada e muito desejada, sobretudo porque a anterior tinha terminado num aborto espontâneo. Foi uma gravidez tranquila, bela, sem grandes sobressaltos. Adorava exibir a minha barriga.
Por causa da dor ciática e dos edemas, fazíamos caminhadas ao fim da tarde. Foram momentos únicos em que me concentrava apenas na Beatriz e no Papá. Revíamos a nossa vida e fazíamos planos para quando a Beatriz nascesse. Tenho saudades desses momentos mágicos iluminados com o sol de fim do Verão.
No dia 4 de Outubro tive consulta de manhã. Estava com 1-2 dedos de dilatação e colo 40% extinto. Como já estava com 39 semanas e 6 dias, a médica fez-me um descolamento das membranas para acelerar as coisas. De tarde, comecei a sentir umas contracçõezitas, mas nada que já não tivesse sentido antes. Comecei a cronometra-las e estavam a ficar ritmadas… de 10 em 10 minutos.
Quando o maridão chegou do emprego, decidimos ir para o hospital. Mas antes jantamos com calma, tomei banho e fiz a depilação. Verifiquei se estava tudo na mala e ás 20:15 saímos, convencidos que íamos voltar daí a umas horas.
Ás 21:00 dei entrada nas urgências do Hospital de São João (Porto) e ligaram-me ao CTG. Como estava de serviço um obstetra amigo, pedi para falar com ele. Depois de 30 minutos de traçado, verificaram que estava com contracções rítmicas de 8 em 8 minutos, mas de pouca intensidade. O colo do útero estava 50% extinto e com 2 dedos de dilatação.
O meu amigo perguntou-me o que queria fazer: ir para casa e esperar ou ser internada e esperar. Dado que moro longe do hospital (45km) achamos melhor ficar internada e aguardar a evolução durante a noite.
Assim, ás 23:00, fui internada, vesti a batinha da praxe e fui encaminhada para a sala das expectantes (que estava vazia). Achamos melhor o papá ir para casa dormir dado que as coisas estavam muito paradas! Eu continuava a achar que de manhã iam mandar-me para casa… A enfermeira teve o cuidado de vir perguntar-me se sentia dores ou se precisava de alguma coisa. Não, está tudo bem.
Liguei o leitor de CDs com uma musiquinha calma, coloquei o bloco de notas em cima da mesinha e tentei dormir.
Passei a noite meia a dormir, meia a pensar… será que vai ser hoje?
5:00 da manhã.
A enfermeira voltou para fazer-me um novo toque… tudo igual! Mostrou-me ainda que as contracções estavam a abrandar! Fiquei desanimada! Tentou animar-me dizendo que tudo podia mudar de um momento para o outro. Foi muito simpática e prestativa.
8:00
O maridão chegou!
9:00
Mudou a equipa de urgência. Vieram apresentar-se. Acalmaram a minha ansiedade dizendo que hoje iria ter a Beatriz nos braços. A enfermeira fez de novo o toque: 2-3 dedos de dilatação! Decidiram por a oxitocina a correr (15 mg/h).
9:40
Estando sozinha na sala tinha a enfermeira (que era muito simpática) só para mim. Perguntou-me se já sentia contracções. Não! Nada!! Aumentou a dose (30 mg/h).
10:15
Sente contracções?? Ainda não! Voltou a aumentar a dose (45 mg/h).
11:35
Dado que as coisas pareciam não evoluir, a enfermeira fez-me a ruptura artificial das membranas! Explicou-me todo o procedimento antes de o fazer. Achei engraçado sentir o liquido quente a sair. Devo dizer que não doeu nada!
Nesta altura, eu só dizia ao Pedro: Quem me dera sentir contracções!!! (Não imaginava como ia arrepender-me 😉)
12:30
Comecei a sentir as contracções. Muito leves no inicio. Toca a fazer as respirações que aprendi nas aulas de preparação para o parto e colocar o CD de música relaxante!
13:15
As contracções começaram a ser dolorosas. Falei com a enfermeira que tentou ajudar dando-me uma injecção para acalmar as dores. Voltou a fazer o toque: 3 dedos de dilatação (ainda)!
15:00
Ai! Agora sim!! Contracções de 2 em 2 minutos! Bastante dolorosas! Já não tinha posição na cama! Novo toque: 4 dedos!! As coisas estavam a evoluir! Aumentaram novamente a dose de oxitocina (65 mg/h).
15:15
A anestesista veio perguntar-me se queria a epidural! SIM!!!!
Quando viu as minhas costas, disse logo que ia ser difícil… Tenho os elos muito próximos! Tentou 3 vezes… Não conseguiu… Lamentou…
Disse-me que tinha de esperar pelo colega que tinha agora ido para o bloco. Logo que ele chegasse tentava-me dar, mas não garantia que ele conseguisse!
Tentou dar-me coragem, mencionando o facto de ela própria ter tido os 2 filhos sem epidural por ter os elos como os meus.
15:50
As contracções são muito dolorosas e de 1 em 1 minuto! Livra!!! Já não quero saber das respirações… nem da música relaxante!!! Pedimos á enfermeira para reduzir a dose de oxitocina (30 mg/h). O Papá começou a desesperar por não me puder ajudar.
16:25
Nova redução da dose de oxitocina (15mg/h), dado as contracções estarem tão próximas que eu não conseguia descansar! Estava exausta e ofegante… sentia os ossos do meu cocix a expandirem-se. Pelo menos a Beatriz estava a descer! Já não conseguia estar deitada… sentava-me na cama a cada contracção… e respirava!
Só pensava que se não me conseguissem dar a epidural, eu não ia conseguir puxar eficazmente, devido a estar tão exausta!
Não me lembro de muitas coisas que se passaram neste período. Lembro-me da enfermeira dizer-me palavras de alento. E lembro-me de estar sempre de mão dada com o meu marido.
17:30
A anestesista voltou acompanhada do colega. Desculpou-se mais uma vez por não ter conseguido administrar-me a epidural. O colega (mais experiente) notou um desvio nas minhas costas no local onde deve ser dada a epidural. Mais uma tentativa e lá conseguiram.
Santa epidural! Logo após a dose-teste comecei a sentir alivio!
A enfermeira algaliou-me e fez-me um novo toque: 5 dedos de dilatação. Aumentaram a oxitocina (65mg/h).
18:30
Estava nas nuvens! Não sentia nada!! O CTG apresentava contracções de 1 em 1 minuto com o pico a rondar os 100 mmHg. E eu nas calmas! Já tinha esquecido as dores de á pouco!
Novo toque: colo extinto e 6/7 dedos de dilatação. IUPI!
19:00
Estava tranquila. Relaxada. Decidi descansar um pouco e despedir-me da minha barriga. Coloquei novamente música e dormi.
19:30
Novo toque: 8 dedos de dilatação. Passámos para a box.
20:00
Novo toque: 10 cm! Chegou a hora!!! Chegou o meu colega, a enfermeira chefe e a obstetra que me ia fazer o parto!
Toca a puxar! Puxei eficazmente… parece que aprendi bem a lição nas aulas de preparação!
Entre contracções, contávamos piadas! A enfermeira era um ponto! Fartamo-nos de rir.
20:35
A Beatriz teimava em não descer! Então demos uma ajudinha.
20:40
Colocaram a ventosa e toca a puxar. Desta vez seria o último puxo!
Senti a cabecita a descer! Fizeram-me a episiotomia para facilitar! Senti a cabeça a passar, foi uma sensação indescritível! Pelo que me disseram, nasceu com os olhos abertos, pronta a descobrir o mundo!
Depois os ombros… e finalmente…
20:45
Nasceu a Beatriz!!! Colocaram-na no meu peito! A minha filha!! Estava nos meus braços!!
O Papá cortou o cordão e levaram-na para a arranjar!
20:50
Trouxeram-na logo de seguida já vestidinha e limpa. Nasceu no dia 5 de Outubro de 2005 (exactamente com 40 semanas), com 3450gr e 50cm e um Apgar de 9/10.
21:00
A obstetra extraiu a placenta e coseu-me enquanto que o Papá tirava fotos! Tudo num ambiente calmo e tranquilo. Ficámos só os 4: Eu, o Papá, a Beatriz e a obstetra. Conversávamos enquanto ‘costurava’. Fez um trabalho impecável! Tudo pontos internos. Quase nem se nota!
22:15
Primeira mamada da Beatriz, ainda na sala de partos. Sem stress, sem ser preciso ensinar-lhe!
Estou radiante de felicidade!!! E o papá… só dizia que a nossa filha é linda!
Com este descrição, espero ter conseguido transmitir como o parto da Beatriz foi uma experiência fantástica. Penso que isto deveu-se á calma que sentia e ao apoio incansável do meu marido, mas também porque a equipa médica assim o proporcionou. Todos os procedimentos médicos que me fizeram foram previamente explicados. Foram sempre atenciosos e embora vejam partos todos os dias, não deixaram de compreender o quão importante é para uma família o nascimento do seu filho. Tudo decorreu num ambiente calmo e com o Papá sempre presente.
Para terminar, quero salientar que a amamentação é das experiências mais gratificantes que podemos ter. Tivemos contratempos e algumas dúvidas (naturalmente) mas com persistência e com a ajuda de fóruns especializados conseguimos ultrapassá-las.
Agora com quase 1 ano a Beatriz está assim. Nunca esteve doente, apenas se constipou uma vez. É saudável, muito curiosa e feliz. E ainda mama uma vez por dia.