“O meu parto foi a experiência mais animal, mais terra, mais forte que alguma vez vivi! Fui entrega total, fui corpo em dádiva, fui Mãe!!”
Planeei e desejei um Parto Humanizado ou seja que os Profissionais de Saúde e/ou quem me acompanhasse entendesse que um Parto pertence à Mulher que deixa partir o filho que em seu ventre floresceu! Humanizado porque não é soro e CTGs e intervenções médicas, muitas vezes desaconselhadas pela OMS, que uma Mulher que está a parir necessita mas sim que respeitem o seu ritmo, que lhe deem palavras de conforto e acima de tudo a deixam livre para ser animal! Repito a palavra animal porque entendi na minha carne, no meu corpo, na minha alma as palavras de Michel Odent. Somos mamiferos!! Somos animais, racionais é certo mas um parto não é razão, é intuição, é amor, é sangue, é fogo e é uma grande alegria!
Senti que o parto faz todo o sentido no “fechar” da gravidez. Tudo tem o seu pulsar nada acontece ao acaso. Eu senti-me ao longo da gravidez a lentamente, dia-a-dia, a despedir-me de mim para me preparar para ser Mãe. Nem sempre foi fácil, nem sempre entendi que sinais eram aqueles e o Parto veio dar cor e sentido a estes 9 meses de Mulher-Casulo!
Foram 41 semanas! E o Gaspar nasceu quando quis nascer, sem drogas, sem indução, nasceu quando chegou o seu momento. Nos últimos dias crescia em mim a ansiedade do fim da gravidez, queria muito que ele nascesse sem nenhum tipo de indução e não queria mesmo um Parto por cesareana!
E no inicio da noite de 20 de Outubro de 2006 depois de uma troca de amor minha com o Pai do Gaspar começaram as contracções, mais precisamente às 3 da manhã!
E no inicio da noite de 20 de Outubro de 2006 depois de uma troca de amor minha com o Pai do Gaspar começaram as contracções, mais precisamente às 3 da manhã!
Comecei a preparar a sala de minha casa com aromas de canela e abóbora, pus a música que tinha preparado e a partir daí fui fechando os olhos e a alma à medida que se intensificavam as contracções. Digo fechar os olhos e a alma porque fui vivendo uma espécie de viagem ou transe que só terminou no momento em que senti o Gaspar nos meus braços pela primeira vez. Por volta das 06:00 chegou a Sandra, a nossa querida Doula que foi sem dúvida imprescendivel! Foi carinho, foi abraço, foi entrega! Respeitou todas as minhas decisões e esteve connosco sem nunca se impôr! Por volta das 10:00 fomos para a Cruz Vermelha. Cheguei ao Hospital com oito dedos de dilatação. Quando chegou a Radmila senti que se aproximava o momento! Senti pela primeira vez que chegava, realmente o momento de sentir o meu filho passar o anel de fogo.
O chegar ao Hospital, embora tivessem muito poucos Profissionais de saúde na sala de Partos, foi de alguma maneira uma quebra. A luz entrava forte na sala e já não estava em minha casa, no meu refúgio. Porém tive total liberdade de movimentos, continuei a ouvir a minha música, o Pai do Gaspar esteve sempre comigo, tive uma bola de parto para relaxar, a ajuda da Sandra em cada contração e o apoio da Radmila que é sem dúvida uma médica muito especial. Que aceitou o meu ritmo, aceitou fazer do meu Parto o meu Parto!! Foi falando comigo com carinho, foi-me incentivando a fazer a passagem de Mulher-Casulo a Mulher-Mãe. Sentou-se no chão e deu-me as suas costas para que as minhas juntasse e relaxasse entre as contracções! Este pequeno grande gesto cheio de humildade e respeito foi de facto muito intenso e bonito!! No momento expulsivo a Radmila ajudou-me, com os seus dedos sem episiotomia!! Ajudou-me com os seus dedos e com as suas palavras! Principalmente com as suas palavras!
E foi assim que às 15:25 o meu filho Gaspar passou pelo anel de Fogo e despertou para neste Mundo caminhar. O Pai estava comigo, estavamos os dois sentados ele atrás de mim, eu no banco de Parto e a Radmila sentada à nossa frente, no chão. E nada mais foi usado! O CTG foi apenas usado de forma intermitente e sem me ser preso com aquele cinto elástico horrivel. Não tinha soro, não tive de estar deitada e estava por meu desejo nua!
Como referi no início foi uma experiência totalmente animal e em profunda ligação com a Mãe Natureza! Porque até a ansiedade do final do Gravidez é importante para que o Parto não seja breve ou pequeno como costumam desejar! “Que tenha uma hora pequena!” O Parto deve e têm de ser vivido no seu ritmo!
Depois de o Gaspar estar nos meus braços o Pai cortou o cordão umbilical e iniciámos então esta aventura de ver um filho crescer!
Não só eu fui respeitada como tambem o foi o meu filho que sentiu o calor dos Pais assim que nasceu e esteve sempre connosco! Nasceu com óptimos indices de vitalidade e eu no mesmo dia já poderia ter vindo para casa e acredito qie o nosso bem estar se deveu ao Parto ter sido totalmente natural! Porque seguimos o nosso instinto! Porque fomos Água, Terra e Fogo!
A amamentação está a correr muito bem porque seguimos os sábios conselhos da Sandra e deixamo-nos guiar pelo instinto e não pelas rigidas regras do relógio. O meu filho mama sempre que o pede!
Seguir o instinto é o melhor a fazer! Porque mesmo quando se é Mãe pela primeira vez já temos em nós todas as pulsões necessárias para cuidar de um recém nascido!
Durante a gravidez tive momentos de muita tristeza e inquietude por pensar que não poderia viver este Parto como desejava especialmente quando mostrei o meu Plano de Parto a um médico Obstetra do Hospital de Santa Maria e este respondeu-me: “Não sei se têm estes direitos!” Pois sim tenho e tive!! E serei testemunha do mesmo para todas as mulheres com quem fale para que não tenham medo de ser Mulheres, que não se deixem assustar por histórias de Partos horriveis e dolorosos e em que tudo parece correr mal! Porque é das experiências mais belas que podemos viver! E temos a obrigação e o direito de não nos deixarmos enganar por quem transformou o Parto numa especie de Patologia e para quem nos empurra para a “facilidade” da epidural e da cesariana! Sejamos entrega!
Por tudo o que vivi agradeço de corpo e alma à Sandra, à Radmila, à Joana e ao Volker!
E agradeço também aos meus Pais que fizeram de mim o que sou hoje, que sempre me incentivaram a ser inquieta e a não seguir um caminho só porque já está trilhado mas sim porque nele acredito! E agradeço especialmente à minha Mãe porque é a minha melhor amiga e que esteve e está sempre disponível e com quem aprendi que ser Mulher e ser Mãe só faz sentido quando a entrega é total!
Posso-te dizer a ti meu filho que dei tudo para que de mim nascesses, agora o Palco é teu!!!
Rita Dacosta