“Quando descobri que estava grávida o meu parto ficou imediatamente claro na minha cabeça: uma cesariana electiva. Rápido. Indolor. Seguro.”

Sou pediatra. Parte do meu trabalho envolve receber recém-nascidos no bloco de partos do hospital. Quando a minha presença é necessária isso significa, geralmente, que alguma coisa não correu bem. É fácil, portanto, compreender que, para mim, o parto é uma coisa assustadora e que inevitavelmente acaba mal. Por isso, uma cesariana electiva pareceu-me sempre o caminho mais curto e mais seguro para um bebé vir ao mundo.
Às 17 semanas de gravidez o meu bebé já tinha nome: Alice. E às 17 semanas falei pela primeira vez com a Sandra. Uma amiga tinha-me oferecido o livro Nascer Saudável, insistiu comigo para o ler, “é científico”, disse ela. Fiz que sim com a cabeça, um pouco desinteressada, ia ler o livro e depois arrumá-lo bem longe da minha cesariana programada, da minha ciência indiscutivel e infalível. Li o livro, no fundo sempre tive algum carinho por uma visão da vida mais simples e natural, sempre soube que somos bichos mas também sempre vivi com uma natureza cruel que, em pouco menos de nada, nos leva deste mundo. Por isso peguei no livro e comecei a lê-lo. E em pouco menos de nada deixei de ler e passei a devorar cada página. De repente tudo o que eu pensava que, com a minha ciência, eu sabia sobre o parto, desapareceu, e percebi que a verdadeira ciência do parto estava naquele livro. Revi mentalmente todos os partos a que já assisti e pensei em quantos deles eu pude ver acontecer o que aquele livro defendia. Poucos. Nenhum, talvez. E às 17 semanas de gravidez, com uma Alice a crescer dentro de mim, que eu queria proteger de todos os perigos com uma cesariana, procurei a Sandra. É que o parto não tinha deixado de ser assustador para mim, tudo o que eu tinha visto no meu trabalho não desapareceria da minha cabeça, mas com a Sandra parecia pela primeira vez possível trazer a Alice ao mundo com um parto natural, sem que isso fosse um perigo para ela. 

Procurei a Sandra porque tive a certeza que alguém capaz de escrever um livro tão claro e imparcial sobre um tema tão dificil e seria a pessoa que eu queria ter ao meu lado para me ajudar a não ter medo, a confiar no meu corpo e no da minha bebé.
A Alice chegou às 39 semanas, depois de a Sandra ter estado conosco durante todo o tempo em que ela cresceu na minha barriga. Em todos os momentos do meu parto encontrei gente pronta a dificultar o meu caminho no parto, encontrei médicos como eu sou e que não respeitaram as minhas escolhas, as minhas vontades, a naturalidade de parir. Mas também encontrei gente boa que me ajudou e me deu força. Tive medo o tempo todo, a minha cabeça de médica viu perigos em todo o percurso mas as mãos da Sandra deram-me toda a força que eu precisei, e as páginas que li ensinaram-me a não duvidar daquilo que escolhi para o meu parto. O meu parto não foi perfeito, não foi tudo o que eu desejei mas foi tudo o que eu decidi e permiti que ele fosse, sem intervenções desnecessárias. Tive uma epidural que preferia ter evitado mas que foi essencial à progressão do parto. Durante todo o tempo o meu plano de parto foi questionado mas eu tive a certeza de estar a decidir o que estava certo, mesmo que isso fosse contra tudo e todos.

No final, foi só uma alegria imensa ter passado pelo longo caminho de trazer o meu bebé ao mundo e estar plenamente disponível para recebê-lo e cuidá-lo quando ele chegou. E A Alice chegou bem, perfeita, saudável. Sem a Sandra, a história da Alice seria muito diferente e a minha história como mãe também. Mas, mais importante, o meu percurso como médica seria talvez radicalmente diferente se a Sandra não se tivesse cruzado comigo para me mostrar que a ciência está, muitas vezes, nos locais e nas pessoas mais inesperados. É fácil ser médico e sentir que sabemos tudo e que ninguém deve ter nada a dizer sobre o nosso trabalho e as nossas decisões, afinal fomos nós quem estudou anos a fio. Mas é também como médicos que devemos ter a humildade de aceitar o que não sabemos (porque há sempre tanto a mudar!) e a curiosidade de ir mais longe para compreender as dúvidas e desejos daqueles que nos procuram porque precisam de nós. Nas páginas do Nascer Saudável encontrei, de facto, ciência, muita dela sem qualquer justificação para ainda não ser praticada no nosso país e toda ela totalmente compatível com as melhores práticas médicas e de enfermagem para um parto seguro. E na Sandra encontrei alguém muito ponderado, muito fundamentado, e que poderia com a maior naturalidade chamar, como nós médicos gostamos muito, de Colega. Tenho a certeza que ela estará comigo em todos os partos que vierem, espero que mais gente a leve consigo também.

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